Cansei de ver oradores preparando seus discursos, imaginando causar um grande impacto naqueles que iriam ouvi-los. Confiantes no poder revolucionário dos conteúdos que tinham a apresentar, acreditavam que provocariam uma mudança radical em seus ouvintes. O resultado, porém, quase sempre foi bem diferente do esperado. Invariavelmente, o que aconteceu, nesses casos, foi uma recepção fria à mensagem apresentada, a qual não apenas não resultou em mudança alguma, como chegou até a despertar o desprezo em relação ao orador.

Na verdade, é incrivelmente raro um palestrante conseguir fazer com que, por meio de seu discurso, uma audiência mude seu pensamento. Não digo que não seja possível, mas é algo muito difícil de acontecer. Geralmente, as pessoas não ouvem uma palestra para alterar as ideias que elas têm das coisas. Elas ouvem-na para reforçar as convicções que já possuem.

Aliás, esta é a própria definição de retórica: um discurso que parte das crenças que o público já carrega consigo.

Fica claro, portanto, que quem delimita as fronteiras do que vai ser abordado não é o orador, mas sua audiência. O que há, de fato, é um acordo entre eles, como se fosse um acerto prévio sobre quais são os limites do que deve ser dito e até onde se pode chegar. O que ultrapassa essas fronteiras é considerado uma quebra desse concerto e o orador que comete esse erro acaba causando o inverso da mudança que espera provocar, ou seja, a rejeição ao que ele está apresentando.

Sendo assim, um discurso está longe de ser um espetáculo de um homem só. Trata-se bem mais de uma comunhão, onde há, é verdade, alguém que detém a palavra, mas que não está livre para dizer o que quer, senão para explorar aquilo que se encontra dentro dos limites impostos pelo acerto silencioso que mantém com a audiência que se dispõe a escutá-lo.

Por isso, obtém-se pouco sucesso em uma palestra quando se aposta todas as fichas apenas no material a ser apresentado e não se percebe que o que há entre o orador e a plateia é mais do que a emissão e absorção de uma mensagem. Há, de fato, uma comunidade de espíritos.