Causa confusão ver petistas falando em defesa da democracia quando sabemos que as atitudes do partido, há muito, já provaram que esse modelo de governo não é o seu preferido. Ainda assim, parece que há até uma certa obsessão no uso dessa palavra, principalmente se for para acusar os adversários de atentarem contra ela, como se aqueles que a proferem – no caso,  petistas – fossem seus verdadeiros guardiões.

Petistas são marxistas-leninistas e estes, historicamente, nunca foram muito afeiçoados à democracia. 

Então, por que insistem em referir-se a ela como se fosse seu baluarte? É que democracia, na concepção marxista, está longe de ser a ideia, que a maioria das pessoas possuem, de um governo de todos. Para os marxistas, existe apenas a democracia do partido. Na época da revolução bolchevique, isso incluía todos aqueles que participassem ativa e favoravelmente da revolução, de líderes partidários a proletários – se bem que gradual e rapidamente estes últimos foram perdendo voz dentro do movimento, até ele se transformar em uma verdadeira ditadura, com Stalin. Hoje, o conceito permanece o mesmo, ainda que os personagens tenham sido adaptados. Agora, não são os proletários, mas os grupos de apoio, como os coletivos de minorias e as ongs afiliadas, a participarem dessa democracia partidária.

Logo, para o petista, democracia significa nada mais do que o direito dos membros ligados ao partido e aos grupos de apoiadores participarem das deliberações em relação às ações e direcionamentos políticos a serem tomados. A democracia como eles entendem é apenas interna – e, ainda assim, geralmente teórica e aparente. Dessa maneira, quem não colabora com o partido, quem não concorda com sua política e mesmo quem é indiferente a ele está fora dessa concepção democrática. Democracia, para petistas, significa meramente o modelo de ditadura coletiva a ser implantada.

Com isso, fica mais fácil entender as palavras de Jacques Wagner, coordenador da campanha do Partido dos Trabalhadores, que afirmou que o problema, para eles, era ter que “jogar o jogo com as regras deles” – referindo-se obviamente aos sistema democrático-eleitoral brasileiro. Também esclarece muito sobre a afirmação do candidato petista derrotado na corrida presidencial, Fernando Haddad, quando ele diz, em seu discurso, sobre uma “DEMOCRACIA COMO NÓS A ENTENDEMOS”. Nesta, você, que não concorda com ele, nem com as ideias esquerdistas, está fora, sem direito a dar qualquer palpite nos rumos do país.

Por isso, todos nós, que não concordamos com eles, somos, para eles, uma ameaça à democracia. Porém, ressalte-se: à democracia como eles a entendem.