Não sou um santarrão, nem tenho a pretensão de agir como um puritano. Tenho muitos defeitos para isso. Quando, mais novo e imaturo, acreditei que podia alcançar tal perfeição, apenas acumulei certa arrogância, ainda que sutil. É que todo pretenso santo impõe um padrão que acaba servindo não apenas para si mesmo, mas, obviamente, para o julgamento alheio.
É certo, porém, que a moralidade é necessária. Um povo sem fundamentos morais tende a desaparecer. São eles que dão o sustento para a construção da sociedade e a mantém saudável. Por mais que isso incomode os libertários e revolucionários, não há como, simplesmente, negar a moralidade como se ela fosse dispensável. É preciso aceitá-la, para a própria sobrevivência.
O problema é saber qual a moral aplicável. Isso porque mesmo os movimentos revolucionários se basearam em uma moral rígida. Porém, era uma moral infernal, uma réplica mal feita e corrompida da moral cristã. E a moral, quando não baseada nos princípios corretos, se torna pior que sua ausência.
Basta ver como o mundo de hoje, politicamente correto, tenta impor sua própria moral sobre todos. Demonstrando afetação quase histérica, ele exige que todos obedeçam sua cartilha ditatorial, onde é errado dizer muitas coisas, fazer muitas coisas, pensar muitas coisas.
O problema é que a moral que sustenta essa imposição atual é falsa, principalmente porque não se baseia em nada, senão em uma tíbia lembrança de um tempo onde ainda existiam coisas certas e erradas. Assim, apesar de o mundo contemporâneo afirmar que muitas coisas devem ser proibidas, ele já não sabe dizer por que. E nisto, as causas que mais se destacam são aquelas que interessam aos grupos mais atuantes.
No fim das contas, a sociedade de hoje acaba sendo mais moralista que muitas outras anteriores, mesmo bastante religiosas. O problema é que a moral atual não tem princípios. Ela se baseia em sentimentos, em sensações e, pior, em interesses. Não tem como dar certo e serve só para impor sobre os outros impossibilidades conflitantes. É apenas um pretexto para os tiranos.
Por isso, antes da moralidade, a verdade. É esta que estabelece os padrões daquela, e não o contrário. A moral precisa ser estabelecida por algo que transcenda os indivíduos. A moral é transcendente, pois apenas o superior pode determinar o certo e o errado. Quem não acredita nisso, fingindo lutar por algo superior, apenas sufoca os outros com a própria vileza.
Para se atingir a moral basta o raciocínio.