“A beleza e o que é interessante em artigos de jornal, nos posts que lemos em blogs e até em matérias de revistas é que eles são como a porta de entrada para diversos assuntos. Como não têm um compromisso maior com a explicação mais detalhada de tudo o que é exposto, podem navegar por mares infinitos de temas”

Quando alguém escreve um texto, seja para seu próprio blog, seja mesmo para um veículo de comunicação maior, o que ele está expondo não é mais do que uma síntese de suas impressões mais profundas. A redação de um artigo jamais esgota um tema e deixa muitas explicações a serem dadas. Isso, porém, não é um defeito desse tipo de comunicação, mas faz parte de sua própria natureza e, pode-se dizer, é o que faz sua beleza. Exigir que um post, um artigo ou mesmo um ensaio explicite todas as nuances do tema tratado é, nada menos, que desvirtuá-lo.

O articulista é, antes de tudo, um provocador. Seu papel é lançar ideias, trazendo-as ao conhecimento do público para que sejam pensadas, debatidas e até contraditadas. Sua preocupação não pode ser a de explicar tudo detalhadamente, o que inviabilizaria seu ofício, mas compartilhar seus pensamentos, ainda que não de maneira completa.

Isso às vezes incomoda o leitor, é verdade, porque ele espera que de sua leitura saiam prontas todas as explicações. No entanto, para explicar tudo, o articulista precisaria traçar todo o itinerário lógico e de reflexão, o que é materialmente impossível e uma descaracterização dessa forma de comunicação.

A beleza e o que é interessante em artigos de jornal, nos posts que lemos em blogs e até em matérias de revistas é que eles são como a porta de entrada para diversos assuntos. Como não têm um compromisso maior com a explicação mais detalhada de tudo o que é exposto, podem navegar por mares infinitos de temas. Quem ganha com isso é o leitor mesmo que entra em contato com matérias que, talvez, se tivesse que esperar a publicação de livros ou alguém mais disposto a escrever tratados, provavelmente jamais ouviria falar de tais assuntos.

Ao mesmo tempo, julgar um articulista por um ou dois artigos que ele escreve, por tudo o que tratei aqui, é, então, uma leviandade. O Olavo de Carvalho sofre bastante com isso. Apesar de tantos livros e estudos mais aprofundados terem sido escritos por ele, vários críticos se levantam para julgá-lo – invariavelmente baseados nos escritos de um artigo escolhido a esmo.

Se alguém deseja entender o pensamento de um articulista apenas por meio de seus artigos, deve ter paciência até colecionar um número considerável desses escritos. Dessa forma, pegando uma ideia aqui, entendendo outra acolá, poderá começar a formar uma opinião mais fundamentada das ideias que permeiam a cabeça do escritor.

Exigir que o escritor de artigos se preocupe em detalhar todos os pensamentos que expõe é inviabilizar seu trabalho. E os trabalhos dos opinadores de mídia sempre foram essenciais para o desenvolvimento das ideias. Aliás, se os escritores de livros são os responsáveis pela formação da cultura de uma sociedade, os articulistas, sem dúvida alguma, são seus verdadeiros movimentadores.