A melhor maneira de destruir um movimento ideológico seria entregar-lhe aquilo que ele reivindica. Faça isso e verá que ele precisará transmutar-se para alguma outra coisa, e encontrar novos inimigos para combater.
Isso até tem alguma relação com a própria natureza humana, que costuma se entediar com aquilo que conquistou. Quem já não teve a experiência de querer muito algo e, quando conseguiu adquiri-lo, teve a sensação de enfado, como se todo o esforço já não tivesse valido a pena? E quem já não ouviu ou mesmo pensou que é mais interessante a busca do objetivo do que realmente encontrá-lo? O fato é que com os movimentos ideológicos acontece algo semelhante, porém por motivos bem mais desprezíveis.
Apesar de todo seu discurso de luta e de busca por direitos, no fundo, a última coisa que os movimentos ideológicos querem é, de fato, alcançar aquilo que dizem buscar. Isso porque se um dia tiverem êxito nesse intento sua luta acabaria e eles dependem dela para sobreviver. Sem a luta, os movimentos ideológicos perdem o motivo para continuarem agindo e sua natureza necessita quase que exclusivamente da ação despertada por ela. O dia que o movimento feminista, por exemplo, conseguisse que todas as mulheres conquistassem tudo o que dizem que devem conquistar, não haveria mais motivo algum para haver qualquer tipo de movimento feminista. Isso ocorre também com os gays, com os sem terra, com os negros, com gordos e todo tipo de movimento reivindicatório que a imaginação humana for capaz de inventar.
Os movimentos ideológicos não querem, de verdade, alcançar suas metas, pois isso lhes arrancaria sua própria razão de existir. Eles precisam de inimigos, precisam de oprimidos, precisam de guerras. Eles também precisam de utopias para que possam apontar um caminho, para que sua massa de militantes manipulados seja dirigida, ainda que jamais a alcancem.
A ideologia vive do espírito de oposição e se alimenta da crítica. O motivo dela sobreviver não tem nada a ver com tentar atingir um resultado qualquer, mas ter sempre algo contra o que se voltar, ter do que reclamar, haver um demônio para enfrentar. Tanto que, se não os encontra, cria-os. É assim que funciona!. Basta ver como os partidos de esquerda, mesmo quando alcançam o poder, tendo toda a máquina estatal em suas mãos, continuam alimentando a retórica do preconceito e do vitimismo. É que eles sabem que, se lhes escapar esse discurso, não lhes sobre mais nada e perdem sua razão de existir.
Não é à toa que os movimentos ideológicos impõem metas inalcançáveis para serem perseguidas. Esta é a única maneira de garantir sua longevidade. Se o que buscam jamais for colocado em prática em sua plenitude, isso lhes garante que poderão permanecer vivos, mantendo seu discurso crítico e de oposição, mesmo quando sua posição política atual seja o de poder.
Aceitar como legítimo, portanto, qualquer discurso ideológico é permitir ser enganado por algo que existe apenas para manipular as pessoas. Na verdade, repetir um desses discursos é apenas alimentar esse ciclo de enganação de quem que finge lutar por algo que, de fato, nunca pretende alcançar.