A Teologia da Missão Integral é um movimento de esquerda e para confirmar isso não é preciso muito esforço. Basta atentar para seus discursos, seu linguajar, sua práxis e as bandeiras que defendem.

É possível até discutir se as idéias da TMI são válidas. O que não se pode negar é o viés esquerdista de sua pregação. Fazer isto é dar prova de ignorância política plena ou de cinismo irremediável.

Muito se poderia evitar de debates sobre o tema se seus integrantes fossem mais honestos e assumissem, claramente, de que lado estão. No entanto, insistem em transmitir uma aparência de neutralidade que torna sua postura mais cínica do que realmente neutra.

Até porque há alguém são nesta terra que não perceba que homens como Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz, Ricardo Gondim, Levi Araújo e Valdir Steuermagel são esquerdistas até suas medulas?

O que mais me surpreende, porém, não é a visão política que os integrantes da Missão Integral possuem, mas a tentativa, quase desesperada, de esconder isso.

Teriam eles vergonha de serem vistos como esquerdistas ou, simplesmente, sabem que a partir do momento que se declararem como tais perderão boa parte de seus seguidores, que são iludidos por sua linguagem atrativa e aparentemente conciliadora?

O que é preciso, aliás, para identificar um movimento de esquerda, senão que defendam ideias típicas da esquerda? E a Missão Integral, apesar de todo o verniz verborrágico, não economiza na promoção das bandeiras que a esquerda sempre promoveu.

Poderíamos fazer um teste e perguntar, para cada um de seus integrantes, se eles acreditam no livre mercado, se defendem o porte de armas, se acreditam nos valores da meritocracia, se acham que o Estado dever ser mínimo entre outras plataformas típicas de uma visão conservadora. Se algum deles assumir essas bandeiras, certamente a TMI poderia ser considerada politicamente ecumênica. No entanto, alguém acredita que fariam isso?

Repito: não estou, neste momento, fazendo juízo de valor quanto às idéias da Missão Integral. Farei isso em outros textos. O que eu quero deixar claro é que, por mais que seus integrantes neguem, ela possui um claro viés esquerdista e seria muito mais honesto, da parte deles, deixar isso manifesto.

Mas eles continuam fingindo que não são e fazem isso por meio de subterfúgios bem ardilosos. Mais de uma vez, vi, por exemplo, integrantes da TMI se manifestando que o movimento não possui caráter marxista, apesar de dialogar com várias formas de pensamento.

Isso dá, em um primeiro momento, a impressão que a Missão Integral não tem comprometimento com o esquerdismo, o que não é verdade. Quando eles dizem que não são marxistas, apenas estão dando a entender que não possuem uma visão esquerdista mais dogmática. Ser marxista é ser esquerdista, mas ser esquerdista não significa, necessariamente, ser marxista. Assim, por meio desse artifício, eles conseguem responder um questionamento insistente, sem entregar a verdadeira natureza do que pensam.

Por isso, aconselho a quem quiser identificar algum integrante da TMI, não faça isso chamando-o de marxista, mas de revolucionário. E isto ele não pode negar, senão mentindo descaradamente. Até porque, um de seus maiores teóricos, René Padilla, em seu livro “Missão Integral“, afirma categoricamente que esse movimento possui, sim, caráter revolucionário.

Portanto, considerando que a mentalidade revolucionária se encontra do lado contrário da mentalidade conservadora e, obviamente, do lado esquerdo da política, não há como seus integrantes negarem que fazem parte de um movimento de esquerda.

Que fique claro, portanto, que antes de qualquer digressão sobre as idéias dos personagens da Missão Integral, é essencial identificá-los como pessoas com mentalidade, no mínimo, progressista. Isso facilita muito a compreensão de suas propostas e torna o debate em torno do que dizem muito mais definido.

Além do que, me parece mais justo ingressar nesse assunto com as posições já definidas. Isso porque, o jeito que fazem, permite que, como vimos, mesmo sendo esquerdistas evidentes, se esquivem das acusações mais comprometedoras, principalmente aquelas ligadas às mazelas promovidas pela esquerda histórica. Estando, porém, bem claras as posições, não há como fugir das implicações de serem esquerdistas.

O que eu não entendo é por que insistem em não se identificarem como tais. Se o que defendem é idêntico ao que os socialistas defendem, se que o rejeitam são as idéias que os esquerdistas rejeitam, o que falta para se verem, eles mesmos, como esquerdistas?

Na verdade, eles sabem que são. Apenas não pega bem falar assim, tão explicitamente.