O Governo petista do Estado do Rio Grande do Sul lançou um documento com ideias típicas da ideologia INGSOC, imaginada pelo escritor George Orwell, em seu livro 1984. A Novilíngua, que no livro era uma forma que o governo tinha, pela criação de uma nova linguagem, de apagar o passado e criar uma nova maneira das pessoas entenderem a realidade, se materializa no documento disponibilizado pelo governo gaúcho.

O “Manual para o Uso Não Sexista da Linguagem” é, de fato, uma aula de engenharia social. Baseada na crença que a linguagem altera a realidade, o que o governo do Rio Grande do Sul pretende, com esse documento, é criar uma nova cultura, mexendo com a percepção das pessoas, por meio da alteração da forma como elas falam e se referem às coisas.

O objetivo declarado no Manual é eliminar as diferenças de gênero que, segundo o conteúdo apresentado, são estimuladas pela linguagem usada cotidianamente pelas pessoas.

Isso tudo não chega a ser uma novidade em termos teóricos. Na academia essa ideia já, há algum tempo, vem sendo discutida e promovida. O que mais assusta, no caso, é isso se tornar política pública, promovida com dinheiro do contribuinte, constituindo uma clara imposição ideológica sobre o cidadão, típica de governos totalitários, que pretendem estender sua influência até mesmo às questões mais íntimas.

O Manual traz bem clara a ideia que esse pessoal faz de como as coisas são. Para eles, a linguagem é uma arma de imposição ideológica e deve ser usada, sim, para alterar a percepção da realidade. Mais assustador ainda é a crença que eles têm de que isso é responsabilidade do Estado. Segundo o entendimento deles, o governo deve cuidar para que as relações humanas sejam bem reguladas, não deixando um milímetro sequer de espaço livre para a liberdade dos indivíduos.

Logo na primeira página do documento está declarado que “a postura dos governantes no enfrentamento às discriminações e tratamento desiguais, aos preconceitos de toda ordem e às ameaças a direitos humanos é o que dá conteúdo a estes governos“. Ou seja, diante de todas as obrigações governamentais, como melhoria da saúde, da educação, das estradas, dos serviços públicos, o que eles crêem que caracteriza mais um governo é sua atuação diante daquilo que eles consideram discriminação e preconceitos.

Essa é uma típica visão totalitária. Ao invés de agir apenas como guardião da ordem, como eliminador de conflitos, o Estado socialista sente-se obrigado a atuar nas esferas mais íntimas da sociedade. Não há espaço para a composição entre os particulares. Tudo deve ser definido pelo poder estatal, que vai dizer o que é melhor a ser feito.

Os idealizadores do Manual sabem o que estão fazendo, afinal, acreditam seriamente na força da linguagem para alterar a percepção da realidade. Tanto que transcrevem o texto de Maria Angeles Calero Fernandes, autora do livro Sexismo Linguistico: análisis y propuestas ante la discriminacíon sexual en el lenguaje, que afirma que “as línguas podem levar-nos a compor nossa percepção do mundo e inclusive a que nossa situação se oriente de uma determinada maneira“.

Resumindo, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul pretende alterar a percepção da realidade das pessoas, por meio da alteração da linguagem, simplesmente porque entende que se trata de uma sociedade sexista e preconceituosa.

O cerne do Manual é a ideia de que a linguagem usada perpetua uma diferenciação entre os gêneros, fomentando um preconceito que precisa ser extirpado. Por causa disso, por meio dele ensinam a substituir a forma como as pessoas comumente falam e escrevem para outra mais politicamente correta, que valoriza a mulher.

Desprezando completamente os séculos de evolução linguística, a história das composições literárias e a estética mais básica, o documento governamental cria uma forma de comunicação (que é horrível, por sinal), que, para atender as exigências das regras impostas por ele, é preciso negar todo o bom senso, a beleza da escrita e a própria percepção que temos da realidade.

No entanto, até mais importante do que o objetivo declarado, são algumas afirmações contidas no Manual que demonstram o quanto o governo petista pretende ser o agente de uma mudança extrema na forma como as pessoas percebem o mundo. Isso é um totalitarismo radical, que invade as esferas mais íntimas do indivíduo para impor a vontade da autoridade. Se o documento do governo impõe regras sobre o funcionalismo público é apenas porque não tem poder para ir além. Se tivesse, exigiria mudanças até nas esferas mais íntimas dos indivíduos.

Por que fiz questão de realçar isso? Um dos trechos do Manual afirma simplesmente que “a família é o primeiro lugar onde nos inculcam o que é ser mulher e o que é ser homem“. Com isso, fica bem claro quem é o primeiro inimigo do governo na implantação dessa mudança de percepção promovida por ele: a família! Se ele pudesse, portanto, agiria diretamente sobre ela, exigindo que mesmo dentro de suas casas as pessoas mudassem sua forma de falar.

Mas será que ele tem poder para fazer isso? Não esqueçam que o Governo estadual tem, sob suas determinações, milhares de escolas públicas, onde milhões de crianças são submetidas diariamente a um currículo implementado por ele, onde pode impor diversas matérias que ensinem aquilo que entenda ser o melhor para todos. Talvez não possa exigir que os pais falem como eles querem, mas pode, facilmente, ensinar os filhos a repetir suas abominações e levar isso para dentro dos lares.

E o melhor para governos como esse do PT é a completa distorção da natureza. O que eles querem é mudar o senso comum e transformá-lo segundo sua própria visão de mundo. Para eles, homem e mulher possuem apenas uma diferença cromossômica (como afirma o Manual), sendo que todas as restantes são meramente culturais. Assim, homem e mulher, menino e menina, atitudes tipicamente masculinas ou femininas são apenas criações culturais que precisam ser revistas.

E onde é o melhor lugar para doutrinar às pessoas para essa nova forma de ver o mundo senão na escola? E o que o governo pode fazer ali vai além do que as pessoas comuns podem imaginar. Quem já leu o livro Maquiavel Pedagogo, de Pascal Bernardin, sabe que as possibilidades de manipulação das pessoas por meio do manejo do currículo escolar são infinitas.

E o que um governo imporá sobre as escolas quando ele pensa que “com relação aos jogos e brinquedos tem havido uma evolução: as meninas cada vez brincam mais e têm mais brinquedos considerados como “tipicamente masculinos”; não obstante, esse fato [ou seja, essa evolução] não se deu ao contrário, ou seja, encontramos poucos meninos brincando com panelinhas ou com bonecas”?

Por tudo o que estamos observando, alguém duvida que o governo estadual do Rio Grande do Sul não medirá esforços para impor sobre as crianças uma visão da realidade conforme a sua própria? Diante de tudo isso, não é difícil imaginar as escolas gaúchas separando um tempo para os meninos brincarem de boneca e mexer com panelinhas!

Na verdade, todo o Manual tem como fundamento a ideia de que a linguagem tem a capacidade de alterar a percepção das coisas (o que não é algo totalmente equivocado). No entanto, o que ele quer é manejar a linguagem, pois os idealizadores do documento acreditam que “as palavras determinam as coisas, os valores, os sentimentos, as diferenças“. Chegam ao absurdo de afirmar que “...os dicionários […] não apenas recompilam as palavras. Dão significado a essas palavras e, com isso, a gente aprende uma realidade”. Eu fico imaginando um Aurélio ou um Houaiss criando palavras ou dando novos significados às existentes. Na verdade, o problema dessa gente é com a realidade como ela é e, por causa disso, entram em confronto com ela, chegando a encontrar no dicionário um agente de perpetuação dos preconceitos.

Há muitas outras afirmações do Manual que podiam ser levantadas, mostrando como ele é um exemplo perfeito do que significa um governo com pretensões totalitárias. Por falta de espaço, finalizarei esta análise por aqui, apenas alertando para o perigo diante do qual os cidadãos gaúchos estão expostos e como governos como o do senhor Tarso Genro podem se tornar muito mais perigosos do que a maioria das pessoas pode imaginar.