Os analistas a favor da globalização não cogitam que essa onda antiglobalização talvez não seja contra a globalização em si, mas contra o modelo globalista implantado.

Até porque as pessoas não tem nenhum problema em participar de um mercado globalizado, de comprar produtos estrangeiros ou de ver os produtos do seu próprio país concorrendo com produtos de fora. O que elas não gostam é de perceber que esses mesmos concorrentes estrangeiros possuem vantagens e privilégios que os empresários de seu país não têm.

Pois são elas que sentem mais o peso de um modelo de globalização que privilegia, de um lado, as grandes corporações e de outro governos ditatoriais, como a China. São elas que veem o emprego se tornar escasso porque os pequenos e médios empresários de seu país, que são aqueles que poderiam lhes oferecer oportunidades de trabalho, não conseguem competir.

Os liberais adoram falar em liberdade econômica em escala global, mas têm dificuldade de perceber que, na prática, para essa corrida ser justa, todos os países deveriam praticar as mesmas regras, não apenas econômicas, mas tributárias e trabalhistas. O que ocorre, porém, é que algumas nações levam vantagem por não exigirem, nem de perto, das empresas que se instalam em seu território, as obrigações que outros países exigem.

Depois, quando a classe média, os trabalhadores e os pequenos empresários começam a se levantar contra esse modelo, requerendo a retomada de sua nação e até, em alguns casos, se manifestando com nacionalismo exacerbado, os entusiastas liberais se mostram surpresos.

Se há, portanto, uma onda nacionalista no mundo ocidental, não adianta tentar encontrar aí alguma reminiscência de fascismos anteriores ou de radicalismos exclusivistas. O que está acontecendo é apenas uma reação óbvia a uma imposição que, apesar das promessas de prosperidade a todos, tornou grande parte das pessoas mais pobres.