Os sinais são a demonstração do poder da verdade do Evangelho, para que aquele que crê se veja confirmado nessa verdade

 
Um dos argumentos cessacionistas é que os dons espirituais descritos no Novo Testamento tinham a função de autenticar a mensagem apostólica. Por isso, segundo essa ideia, como o cânon bíblico fechou-se, não havendo mais novas revelações, eles não teriam mais razão para existir, pois já não há mais o que autenticar.
 
Uma das passagens usadas para fundamentar essa tese é a do final do Evangelho de Marcos, nos capítulos 14 a 18, que transcrevo abaixo:
 
“Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados juntamente, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão”.
Segundo o argumento cessacionista, os sinais descritos nessa passagem eram autenticadores da pregação apostólica. Portanto, cessando a pregação apostólica, obviamente os sinais também cessariam.
 
A primeira pergunta que faço, porém, é: se os sinais são autenticações da mensagem apostólica, quem eles querem convencer? Em outras palavras: aquilo que está autenticando serve para demonstrar para alguém a veracidade daquilo que está sendo autenticado, mas quem deve ser convencido?
 
Obviamente, não são os apóstolos, pois eles eram os próprios mensageiros. Bom, se os sinais acompanham a mensagem, e se o fazem para que as pessoas, por eles, vejam que a mensagem é verdadeira, então os sinais só podem estar autenticando essa mensagem para que os incrédulos creiam!
 
Essa seria a conclusão óbvia segundo o preceito cessacionista. Ocorre, que o texto de Marcos não diz apenas isso, pois Jesus afirma que os sinais acompanhariam os que cressem, e isso depois deles serem batizados.
 
Se os sinais acompanham os que creem, então eles não existem apenas para convencimento dos incrédulos mas para os próprios crentes. Porém, se eles já creem, qual o sentido disso? Isso só pode estar no fato de que os sinais são a demonstração do poder da verdade do Evangelho, para que aquele que crê se veja confirmado nessa verdade. Por isso, os sinais acompanham os que creem. Em outras palavras, aqueles que creem na verdade de Jesus tem os sinais do poder de Deus em suas vidas. Aliás, essa é a ênfase da passagem: os sinais como confirmação do poder de Deus na vida dos crentes!
 
Quando os cessacionistas afirmam que os sinais serviam para autenticar a pregação apostólica, eles esquecem de se perguntar: autenticar para quem? A única resposta possível, diante do aqui exposto, é: para todos os homens: crentes e incrédulos! Paulo afirma isso quando diz que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é um sinal para os infiéis, mas para os fiéis (1Co 14.22) . Os sinais são uma demonstração do poder de Deus que acompanha a sua Palavra. Seja para crentes ou não crentes. Para os que creem, confirmando a verdade; para os que não creem, convencendo-os dela.
 
O cânon bíblico estar encerrado não faz diferença alguma. Isso porque os sinais não existem para confirmar para a Igreja que a mensagem pregada era verdadeira para que ela pudesse, assim, determinar que tais e tais livros deveriam constar na Bíblia. Esses sinais existem, de fato, tanto para que os crentes, em sua vida concreta e em sua experiência direta com Deus, se confirmem na verdade, como para que os não crentes se convençam dela. A razão de existir dos sinais continua a mesma! Isso porque esses sinais não acompanham a mensagem dos apóstolos, mas a mensagem de Deus, sobre a qual os apóstolos se referiam. E se a mensagem de Deus permanece até hoje, os sinais que a acompanham permanecem também. A não ser que acreditemos que a Bíblia encerrou o poder de Deus e, por causa dela, Ele não age mais no meio do seu povo.
 
Por isso, ainda hoje, se existem os dons, os sinais, os milagres, eles se manifestam pelo mesmo motivo que se manifestaram no tempo dos apóstolos: como forma de demonstração do poder de Deus que acompanha sua mensagem. Tudo para que os que não creem, vendo, creiam e os que creem permaneçam crendo.