Os novos revolucionários, formados por uma massa de jovens maltrapilhos, se bem que por livre espontânea vontade, já que, em sua maioria, não têm problemas financeiros que os impeçam de comprar as melhores roupas de grife, são mais perigosos que os antigos, pelos simples fato de não se verem como revolucionários, mas como a própria representação da virtude.

É que o antigo rebelde, que também acreditava que suas ideias eram superiores e melhores para a sociedade, pelo menos tinham consciência que elas se deparavam com os valores da tradição e das virtudes das famílias e das pessoas comuns. Por isso, sabiam que precisavam ser panfletários, que precisavam apresentar suas razões, que precisavam moldar a cultura de alguma maneira. Era muito comum, portanto, serem tipos verborrágicos e argumentadores.

Os novos revolucionários, porém, nascidos já dentro dessa cultura moldada segundo a ideologia, já não se veem como subversivos. Pelo contrário, como cresceram ouvindo que essas ideias de jerico são a própria representação do bem, as encarnam como seus paladinos, e acreditam, acho que até sinceramente, que defendê-las é uma missão quase divina, ainda que não acreditem em Deus.

Por isso, em suas manifestações, já não se preocupam em argumentar, em apresentar suas razões. Como são eles os próprios justiceiros, como acreditam que sua causa é o próprio bem, não veem nada demais em enfrentar seus inimigos com agressões, xingamentos, cusparadas e grunhidos. Da mesma maneira que alguém que se depara com um adulto violentando uma criança não se preocupa em apresentar motivos para tirá-lo de cima dela, mas age pelo simples impulso de justiça, o menino que cresceu acreditando que suas ideias são o que há de mais correto também não pensa duas vezes antes de tentar impedir que qualquer manifestação contrária a sua se apresente.

O novo revolucionário é mais perigoso exatamente porque não apenas acredita que o que defende é superior, mas que quem pensa diferente dele é a própria encarnação do mal. Assim, da mesma maneira que não se debate com o diabo, ele acha que não precisa discutir com seus adversários.

O problema é que, no fim das contas, é no corpo desses aloprados juvenis que o cramunhão se manifesta.