Há duas coisas que parecem não ter limites: a ignorância e a maldade. Quanto mais eu observo, e veja que estou falando de mim mesmo, mais eu me surpreendo com a capacidade de fazer besteiras, de não entender as coisas, de agir em desacordo com a vontade divina, que o ser humano tem.

Aliás, este é um ponto crucial na visão protestante. Diferente dos catolicismo, que ainda enxerga algum tipo de centelha de bondade na alma humana, o protestantismo, principalmente em sua vertente calvinista, vê no homem apenas sua degradação, não encontrando nada de bom em seu ser.

Não sou calvinista e ainda acredito que, apesar de todas as mazelas, se nos esforçarmos um pouco, encontraremos algum tipo de bondade no homem. Se não fosse assim, os próprios preceitos bíblicos para que exerçamos o amor e façamos o bem seriam inúteis.

Apesar disso, não canso de me assustar com a capacidade que os homens têm de errar, de negar a Deus, de fazer o que apenas ressalta sua maldade. Eu mesmo me surpreendo com meus erros. Quantas vezes me peguei com vaidade, com ira, com desvio da verdade, com preguiça, com maledicência. Não tenho receio de expor isso, pois sei que o leitor, se for honesto, também encontrará os mesmos defeitos em si mesmo. 

Não sou calvinista, mas concordo com Chesterton, que era católico, que dizia que em teologia nada é possível provar, exceto o pecado original. Sim, pois ainda que não creiamos que o homem seja um ser totalmente degradado, não podemos negar que a degradação que existe nele é bem profunda e se apresenta constantemente.

E repito, não estou olhando para os outros. Basta fazer uma análise de mim mesmo para perceber o quanto isso é verdade. Só que, apenas em datas como estas, de final de ano, quando costumamos fazer uma análise da nossa vida e planejarmos nosso futuro, para pararmos e refletirmos sobre como foi possível fazermos tantas besteiras.

Bom, mas talvez aí, neste ponto, esteja se manifestando aquela centelha de bondade que ainda sobrou em nós. Essa capacidade de, pelo menos, perceber que algo está errado e, portanto, saber que é necessário mudar, no que for possível, o rumo das coisas.

Está aí, portanto, algo bom para desejar, nesta época quando torcemos para que as coisas sejam melhores no ano que vai entrar: que nossos erros diminuam consideravelmente.