Categoria: Comunicação

Comunicação

Inteligência e confusão

Mais do que burras, as pessoas são confusas. Muito daquilo que chamamos de burrice nada mais é do que a dificuldade de colocar em ordem os pensamentos, de maneira que eles se tornem claros o suficiente para permitir entender a realidade.
 
Mesmo pessoas de nível cultural inferior, dentro daquilo que seu conhecimento lhes permite saber, poderiam pensar com muito mais claridade se aprendessem a organizar aquilo que está na cabeça delas.
 
É por isso que vemos tantos considerados intelectuais falando asneiras e tomando posições estúpidas. Por mais que tenham muitas informações em suas cacholas, estas são apenas um emaranhado de dados, sem conexão, sem ordem, sem sentido.

Da diversidade de pressupostos

Quando desenvolvemos qualquer tipo de ideia, é imprescindível discernir sobre quais pressupostos estão baseados nossos raciocínios. Muitas vezes, eles são apenas especulações baseadas em percepções subjetivas ou inferências pessoais não colocadas à prova por outras pessoas e outros meios. Então, tudo parece perfeitamente lógico a ainda que cansemos de refletir sobre o assunto, não conseguimos captar qualquer contradição ou erro.

E apesar de todo raciocínio exigir um princípio que o sustente, boa parte deles é apenas retroalimentação do que é pensado sobre os mesmos pressupostos e apenas funcionam se esses pressupostos forem seguidos estritamente.

Todas as filosofias modernas são assim, mas as próprias religiões também. Se as conclusões materialistas só têm sentido quando respeitado o princípio de que tudo tem fundamento na matéria, o calvinismo apenas se sustenta quando obedece-se a Sola Scriptura e de uma maneira bastante rígida. O próprio catolicismo, para ser acolhido plenamente, exige a aceitação de diversos pressupostos que lhe darão a base para suas ideias e conclusões.

É evidente, portanto, que a quase totalidade das discussões que abundam por todos os lados são absolutamente inócuas, pois não tratam de examinar os pressupostos, mas altercam sobre ideias definitivas. Os debatedores raciocinam sobre fundamentos completamente diferentes, a partir de pressupostos totalmente dissonantes, e ainda querem discutir o que se lhes apresenta, que tem apenas aparência de similaridade, mas acabam sendo coisas completamente diferentes.

Esperar, assim, que frutifique algo dessas controvérsias é o mesmo que aguardar que do cruzamento de uma égua com um jumento nasça um quarto de milha. Na verdade, apenas multiplicam-se os burros.

Falastrões debatedores

Quem já tentou debater com uma pessoa ignorante sabe o quão desgastante pode ser tal experiência. Quando me refiro a ignorante, quero dizer daquela pessoa que não tem a mínima noção do que está falando, no entanto, acredita, sinceramente, que é um expert no assunto. Diante disso, não perde nenhuma oportunidade para dar palpites, mesmo que ninguém tenha sequer cogitado a conveniência de sua intervenção.

E se engana quem acredita que esta é uma espécie rara. Muito pelo contrário, seu tipo tem se reproduzido de tal maneira por estas terras, que é quase impossível, após alguém dar alguma opinião coerente sobre alguma coisa, não surgir alguns exemplares deles, dando a conhecer aquilo que se encontra armazenado em suas entranhas.

Para os pertencentes do tipo, a necessidade de emitir opiniões é infinitamente mais forte do que a vontade de conhecer, causando, neles, uma angústia enorme, forçando-os a expelirem a matéria que se encontra já apodrecida em seus intestinos, não deixando dúvidas, para quem passa por perto, por causa do mal estar causado pelo conteúdo compartilhado, que estiveram por ali.

O pior é que são arrogantes, mas isto tem uma explicação lógica. Como o que eles possuem dentro deles é algo muito limitado, aquilo que sabem lhes parece tudo. Sendo assim, não é difícil concluírem que sabem tudo. Por causa disso, não sentem nenhuma necessidade de aprender, ao mesmo tempo que sentem-se absolutamente seguros para falar tudo o que pensam. O resultado é a expelição de tudo aquilo que ruminam, contaminando, onde quer que o façam, o ambiente.

Quem já mexeu com um gambá sabe o quanto pode ser desagradável o odor que ele expele. Quem já segurou uma joaninha sabe que seu cheiro pode impregnar nas mãos por um bom tempo. Mas muito pior é tratar com a espécie relatada acima. Enquanto aqueles simpáticos animais afetam, no máximo, nossos sentidos mais superficiais, os falastrões debatedores têm a capacidade de destruir o humor e paciência de qualquer um.

Por isso, a tolerância não é a melhor maneira de lidar com eles. A melhor solução é, sem nenhum dúvida, expeli-los antes que se manifestem.

Publicado originalmente no Liceu de Oratória

O uso da generalização é um artifício inteligente

Constantemente, me deparo com reclamações por causa de alguma generalização feita por alguém. O protesto sempre se dá no mesmo sentido: a de que a generalização é injusta, pois nem todas as pessoas se encaixam na descrição proposta. Por exemplo, alguém diz que os políticos estão sempre buscando seus interesses e logo vem outra pessoa dizendo que ele não pode generalizar, pois há políticos que não são assim.

Sinceramente, essa reclamação é muito estúpida! Isso porque uma generalização, quando usada como recurso linguístico, não pretende, realmente, afirmar que todas os representantes de um grupo, espécie ou classe são mesmo de tal e qual maneira, mas, apenas, toma o exemplo comum, observado de um certo número de indivíduos, e, por amostragem, afirma isso do geral.

Ocorre que essa operação intelectual é apenas um recurso para facilitar a linguagem e a comunicação. A generalização já pressupõe que há exceções. No entanto, estas confirmam a percepção que deu origem a própria generalização, pois se existem exceções é porque, em geral, as coisas são mesmo como o argumentador propôs.

O pior é que a própria pessoa que reclama acaba confirmando a tese, quando diz que não pode haver generalização, pois há exceções e nem todos são daquele jeito. Ora, o que ela não percebe é que se nem todos são de tal maneira é porque provavelmente a grande parte é, o que justifica a generalização. Ao reclamar da generalização acaba confirmando o que o autor propôs.

Generalizar, diferente do que pressupõe algumas pessoas, é um artifício inteligente, que facilita a linguagem, que permite a comunicação e que evita que o autor tenha que o tempo todo ter de informar que há exceções para o tipo descrito por ele. Aliás, sempre há exceções, o que deveria ser óbvio para todo mundo.

Conversas de malucos

A loucura de uma época pode ser observada pela dificuldade que há nela para as pessoas se comunicarem. Como em um hospício, onde cada indivíduo, apesar de compartilhar o mesmo espaço físico com outros, vive em seu próprio mundo, não tendo suas palavras valor para ninguém mais além dele mesmo, pelo simples fato de representarem apenas as imagens existentes em sua cabeça demente, em nossa sociedade, que tem se assemelhado muito a um grande manicômio, as pessoas mal têm conseguido trocar ideias, debater opiniões ou mesmo exortar-se mutuamente. Cada um tem vivido em seu próprio mundo, com suas próprias fantasias e com suas falsas convicções.

Este é o nosso mundo: um aglomerado de pessoas que não compartilham mais, entre si, os mesmos princípios, o mesmo imaginário, sequer a mesma visão da realidade. Sobraram apenas a linguagem, em sua manifestação meramente funcional e os trabalhos práticos – coisas que existem em qualquer hospital para malucos.

Chegamos a esse ponto, sim, mas não foi por acaso. Isso é resultado de um relativismo plantado há séculos e que agora começa a dar seus últimos frutos. Assim, vivemos um completo desacordo relativo às coisas superiores, sendo que muitos sequer acreditam que existam coisas superiores. Há também uma discordância absoluta nas questões essenciais da vida. O que para uns é um mal aterrador, para outros pode significar o maior exemplo de nobreza e até bondade. Cada um, de fato, vive suas próprias verdades e como louco as professa como realidades universais.

Por isso, não podemos mais acreditar nos debates. As visões de mundo são tão diversas e discrepantes que iniciar uma discussão qualquer é mergulhar em um buraco negro de ideias e palavras que ainda que possuam aparência de realidade, não sabemos bem onde vai dar.

Ainda que exista uma pequena minoria de sãos, a maior parte do mundo está dividida em três tipos de pessoas: os imbecis, os lunáticos e os corrompidos. Os primeiros simplesmente vivem dentro de suas possibilidades limitadas. Tentar travar alguma conversa minimamente complexa com eles é perda de tempo. São estúpidos e permanecerão assim. Os segundos, apesar de possuirem alguma inteligência, têm a imaginação tão apartada da realidade comum que qualquer coisa que se diga a eles é logo transmutado para sua realidade paralela. Estes são os idiotas úteis que tiveram suas cabecinhas encharcadas com o lodo ideológico e, depois disso, não conseguem enxergar nada além do mundo de mentira da utopia. Já os últimos até entendem o mundo e estariam aptos para uma boa conversa, mas seus interesses corroeram tanto sua alma que nada mais lhes interessa senão tirar vantagem de tudo que se apresentar diante deles. Estes são os ditos intelectuais militantes, capacitados, sem dúvida, mas tão consumidos pelos seus desejos de poder que não há nada que se possa falar para eles sem que tentem tirar proveito de tudo a seu favor.

Viver neste mundo, portanto, é estar, a maior parte do tempo, em isolamento. O que nos restou é o silêncio involuntariamente promovido pelos nossos interlocutores. Na sociedade atual, já não é possível nem mesmo a repreensão, pois esta pressupõe que ambos, repreensor e repreeendido, compartilham os mesmos princípios. Mesmo Cristo, se viesse hoje à Terra, não teria mais como exortar os fariseus. Os de seu tempo, no mínimo, aceitavam os mesmos pressupostos que ele. Atualmente, suas broncas seriam apenas sua mera opinião.

Aristóteles em Nova Perspectiva, de Olavo de Carvalho

“Olavo de Carvalho oferece-nos uma obra concisa, sintética e objetiva. Ler “Aristóteles em Nova Perspectiva” é ter a impressão que décadas de estudos foram economizadas. Mais ainda, é ter a certeza que estamos sendo apresentados a algo que, não fosse o autor, talvez jamais nos daríamos conta”

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O medo de falar em público

A maioria dos nossos temores são monstros fantásticos criados pela nossa própria imaginação

Na primeira aula de meu Curso de Oratória falo sobre o medo e sobre minha constatação de como muitas pessoas perdem oportunidades preciosas na vida por causa dele. Sim, eu conheço pessoas, e talvez seja até o seu caso, leitor, que chegaram a negar determinados cargos, que não aceitaram assumir responsabilidades que as obrigavam falar na frente de várias pessoas ao mesmo tempo, simplesmente porque tiveram medo. Com isso, perderam oportunidades de empregos, de negócios e de contatos que, muitas vezes, eram o sonho da vida delas.

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A inversão dos termos na modernidade

O mundo de hoje não se importa mais com o que as palavras significam
A sociedade contemporânea, vítima de décadas de propaganda ideológica, está sofrendo de uma mal silencioso, porém terrível: o ressignificar constante dos termos*. Hoje, já não é possível mais ter certeza se o que falamos está sendo entendido da mesma forma por quem escuta. E o problema não reside apenas em uma questão de nível cultural, mas de imaginário mesmo.

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