Categoria: História

Crítica Moderna à Idade Media

Nos meios intelectuais e acadêmicos é muito comum tratar a Idade Média como um período supersticioso, um tempo de rebaixamento da inteligência, de ignorância e de trevas. Chamar alguém de medieval transformou-se em um xingamento, querendo dizer que se trata de uma pessoa retrógrada, obtusa.

No entanto, apesar dos pensadores modernos – aqueles dos séculos imediatamente posteriores à Idade Média – terem sido muito críticos em relação a ela, talvez surpreenda saber que o principal conteúdo de suas críticas não era uma eventual superstição medieval mas, pelo contrário, o excesso de razão e aristotelismo que caracterizava as obras daquele período.

Os modernos viam no medievo um tempo de excessiva racionalidade teológica, de lógica árida e de abstracionismo persistente. E, de fato, tinham alguma razão em sua crítica, afinal, a Idade Média, principalmente no período final da Escolástica, caracterizou-se por debates que beiravam a inutilidade, com sutilezas impalpáveis e estéreis, como, por exemplo, a discussão se a um anjo era possível sentar na ponta de uma agulha.

O outono medieval carrega uma tradição acadêmica já muito bem estabelecida, com pensamentos elaborados e complexos, mas que, de fato, já estavam desapegados da realidade, chegando a tornar-se quase herméticos. Por isso, o Renascimento, que pode ser considerado uma pré-modernidade, representa o início de tempos nos quais as investigações começam a se preocupar com questões mais palpáveis, mais conectadas com a vida cotidiana, mais voltadas para a natureza e para o homem – é o período do humanismo.

Portanto, a crítica que os modernos fizeram aos medievais não se mostra como um desdém por aquilo que consideravam inferior, mas parecia mais com uma revolta contra a sensação de opressão sufocante causada por uma racionalidade superior. Longe de ser um levante contra as trevas da ignorância, tratou-se de um grito por liberdade em relação aos grilhões dos rigorosos raciocínios medievais.

Como a própria crítica moderna deixa claro, a Idade Média não foi um período de sacerdotes ignorantes e fanáticos, mas um tempo de razão, e de razão até em excesso.

Os motivos de Stalin para o pacto Ribbentrop-Molotov

O pacto Ribbentrop-Molotov deixou os comunistas perplexos. Após mais de uma década de luta anti-fascista, de repente, seu líder máximo, Stalin, firmara um acordo com Hitler, no sentido de ambos países absterem-se de atacarem-se mutuamente.

O acordo, chamado de não-agressão, na verdade, representava um acerto de agressão conjunta à Europa. Além de dividirem a Polônia (país que fica entre as duas potências) ao meio, a Alemanha ficava livre para atacar a parte ocidental e a Rússia os países da parte oriental. Significou, portanto, uma combinação entre duas ditaduras que, inclusive, passaram, a partir dali, a bajular-se mutuamente.

Diante da notícia do pacto, comunistas do mundo inteiro, em um primeiro momento, ficaram perdidos. Eles não sabiam como conciliar tudo aquilo que pregavam com essa nova demonstração de amizade entre dois ferrenhos inimigos. No entanto, logo as explicações começaram a surgir. Delas, nasceram algumas teorias que tentavam explicar quais foram os motivos para uma aliança tão inusitada.

A primeira delas é a mais romântica. Por ela, Stalin, refletindo os ideais comunistas, teria agido em favor da paz. Como os comunistas sempre tiveram um discurso contra as guerras, inclusive tendo abandonado a primeira Guerra Mundial, seu líder, ao firmar um pacto de não-agressão com a Alemanha, estaria apenas colocando em prática aquilo que sua ideologia pregava. No entanto, isso seria crível, não fosse o pacto secreto de divisão da Europa que fora feito junto ao acordo principal, além dos expurgos e toda a violência praticada por Stalin, inclusive contra os próprios membros de seu partido e de seu exército. Um homem com a índole de Stalin jamais trabalharia pela paz, a não ser que a paz lhe trouxesse algum benefício.

Uma segunda versão é mais realista. Por ela, o objetivo de Stalin era manter Hitler ocupado em uma guerra com as democracias ocidentais. Ele sabia que, ao invadir a Polônia, Inglaterra e França viriam em defesa do país do presidente Ignacy Mościcki e isso deflagraria uma guerra entre eles. No entanto, não é certo que Stálin tivesse tanta convicção disso, afinal, Inglaterra e França já haviam falhado na defesa da Áustria e da Espanha e, praticamente, entregaram a Tchecoslováquia para a Alemanha. O próprio Hitler estava convicto de que britânicos, conduzidos por Chamberlain, e franceses, liderados por Daladier – ambos que já haviam dado sinais claros de fraqueza – vacilariam mais uma vez. Stalin não poderia apostar tão alto em algo tão incerto.

De qualquer forma, se aceitarmos que Stalin queria colocar as potências ocidentais em conflito, devemos nos perguntar por qual motivo ele faria isso. Uns dizem que seria para atacá-las depois, outros falam que seu objetivo era esperar que a guerra criasse uma convulsão social nesses países, o que possibilitaria a promoção neles de processos revolucionários em favor do comunismo. Ambas possibilidades são aceitáveis, afinal, o primeiro caso cabia bem à personalidade de Stalin, o segundo aos objetivos declarados do movimento comunista.

Pode ser que a versão mais corrente, que é aquela que atribui o pacto ao gênio político de Stálin, afirmando que ele sabia que a URSS não estava pronta para uma guerra que era inevitável e, portanto, teria firmado o acordo, a fim de adiá-la por algum tempo tenha algum sentido. O único porém é que, quando da Operação Barbarossa, pela qual a Alemanha invadiu o território russo, tudo leva a crer que Stalin fora pego de surpresa. Portanto, as duas versões não se conciliam. Se ele fez o pacto para ganhar tempo, não poderia ser pego de surpresa. Se ele fora pego de surpresa, então o pacto representaria uma verdadeira confiança nas intenções de Hitler, o que denotaria uma grande inocência de sua parte, o que é, apesar de tudo, bastante difícil de acreditar.

Ainda assim, é possível especular sobre os motivos de Stalin não parecer preparado. A confiança na amizade de Hitler não faz sentido. O que pode ter, na verdade, acontecido, é que Stalin apenas tenha calculado mal o tempo. Historiadores afirmam que a URSS, na verdade, estava se preparando para empreender um ataque à Alemanha, porém, esperava fazer isso apenas em 1942. Stálin não acreditava, na verdade, que Hitler o atacaria antes de derrotar a Grã-Bretanha e, por isso, não teria se preparado corretamente para a invasão alemã ocorrida em 1941.

Isso leva-nos a uma outra versão, que aquela trazida por Suvorov, em seu livro, “O grande culpado”. Nela, o autor afirma que realmente Stalin fez o pacto para adiar o confronto com os nazistas, porém, seu intuito seria surpreender Hitler em um ataque à Alemanha em território polonês. Isso só não teria acontecido porque Hitler, informado por seu serviço secreto, fora mais rápido e acabara atacando primeiro. No entanto, segundo Suvorov, há fartos documentos que mostram que a URSS já estava pronta para o seu próprio ataque. Isso deixaria claro que o acordo entre as potências seria uma forma, na verdade, de Stalin enganar Hitler, o que faria dele o grande responsável pela Segunda Guerra Mundial, o que os comunistas e simpatizantes, os grandes divulgadores da história, jamais aceitariam.

O fato é que, com exceção da primeira, todas essas versões possuem algum sentido. Se perguntarem para mim, o que eu acho, diria que não acredito na inocência de Stalin. Acredito, sim, que ele queria colocar os países do Ocidente em guerra, seja para depois atacá-los quando já em frangalhos, seja para promover neles suas revoluções. Também não descarto a possibilidade de Stálin ter feito o acordo para surpreender todos com um ataque surpresa soviético. A única versão que descarto totalmente é a que diz que Stalin trabalhava pela paz. Isso já é demais!

Os muçulmanos e a Idade das Trevas

OS MUÇULMANOS E A IDADE DAS TREVAS

Faz-se muitas referências ao período da Alta Idade Média, principalmente entre os século IX e XI, como um período de trevas, quando a Europa praticamente paralisou-se.

Isso não é verdade se considerarmos todo o continente europeu, apesar de ter algum sentido ao se referir à Europa Central. O que esquece-se de se dizer é que essa parte do continente, nesse período, praticamente permaneceu bloqueada pelas conquistas sarracenas da África do Norte, da Europa Ibérica, além de outros avanços marginais em volta e, principalmente, o domínio do Mar Tirreno, que acabou bloqueando o comércio pelo Mediterrâneo.

O centro da Europa acabou isolado, o que impediu o comércio externo e, durante muitos anos, seus habitantes empobreceram-se e lutaram para sobreviver. As investidas de Carlos Magno são uma tentativa de reverter isso com um esforço heroico, mas com alcance limitado.