Categoria: Resenha de Livros

Uma teoria do conhecimento, de José Nedel

Brasileiros que somos, acostumados a vermo-nos como um país culturalmente inferior, onde a intelectualidade é semeada em solo pedregoso, acabamos por ter nossos olhos fechados para preciosidades que possam existir em meio a essa aridez. Costumamos reclamar de nossa pobreza intelectual, mas, talvez, se olhássemos com mais atenção e procurássemos com mais afinco, encontraríamos homens que se dedicam à inteligência com profundidade e erudição, bem aqui, nestas terras tropicais.

Há pessoas laborando na surdina, mais preocupados com o aprofundamento de seus próprios estudos do que com anunciar ao mundo sobre o que fazem. Há quem já tenha, inclusive, uma obra consistente e, se fôssemos um pouco mais atentos, reconheceríamos-na, dando a ela os devidos méritos.

José Nedel é um desses autores e ter acesso a sua obra acende, em mim, uma pequena chama de esperança. Homens como ele – brasileiros como ele – despertam-me para o reconhecimento de que deve haver muitos conterrâneos desenvolvendo trabalhos sérios e importantes, mas que não são vistos, nem por aqueles que promovem a cultura do país, nem mesmo por nós, que caminhamos à margem, e que, às vezes, cometemos o erro de fecharmo-nos em outros círculos marginais.

Símbolo desse esforço silencioso, o livro “Uma teoria do conhecimento” reflete toda a erudição de seu autor. Dentro de uma visão crítica e realista, franqueado na tradição gnoseológica ocidental e alinhado com um neoescolasticismo renovado, Nedel esbanja conhecimento – sem ser um mero coletor de informações – sobre o desenvolvimento da epistemologia entre os maiores pensadores de todos os tempos. Ele ainda presentea-nos com suas próprias opiniões e, com evidente profundidade analítica, oferece-nos mais que um panorama da evolução do pensamento, mas também seu significado e contingências.

Ler “Uma teoria do conhecimento” é fazer uma viagem crítica através das maiores mentes que este mundo conheceu, entendendo como elas compreendiam a relação do ser humano com a realidade, o conhecimento e a verdade. Ter acesso a esse livro, além de tudo, é voltar a ter a convicção de que grandes obras nem sempre são aquelas que todos reconhecem e divulgam, mas podem sobreviver quietas, porém, como uma planta que floresce em terras áridas, servir de inspiração para os sortudos que, como eu, tiveram a graça de deparar-se com ela.

Retóricas, de Chaïm Perelman

Livro bons são aqueles que correspondem às nossas expectativas; livros ótimos são aqueles que frustram-na, entregando algo muito melhor.

Quando eu li o livro ‘Retórica’, de Aristóteles, tive contato com os fundamentos dessa ciência. Para o estagirita, retórica é o discurso da persuasão. É o meio que o orador usa para, a partir das crenças e convicções do auditório, obter sua adesão. Seu livro é uma análise de como se dá esse tipo de discurso e quais são os meios para se obter o resultado pretendido. É uma exposição e uma explicação do processo retórico.

Por isso, ao decidir ler o livro quase homônimo de Chaim Perelman, eu esperava encontrar uma obra que seguisse a mesma linha do pensador grego. Um trabalho que fosse uma análise de discursos retóricos. E conhecendo outros estudos de Perelman, eu sabia que só poderia ser algo detalhado e profundo.

Qual não foi minha surpresa, porém, ao iniciar a leitura do ‘Retóricas’ e perceber que estava diante não apenas de um trabalho sobre o discurso retórico em si, mas de uma verdadeira filosofia da argumentação, acrescentada de uma profunda teoria do conhecimento. Perelman não é um pensador preguiçoso e suas análises cavoucam por entre os diversos aspectos que envolvem a apresentação de argumentos. Seu livro acabou sendo muito mais do que eu esperava; uma reflexão aguda sobre a natureza da argumentação e sobre sua possibilidade.

Quando um livro me oferece o que eu estava esperando, fico satisfeito. No entanto, saio o mesmo da leitura. Com algumas informações a mais, mas essencialmente o mesmo. Quando ele, porém, me mostra aquilo que eu não pensei ali encontrar, dando-me algo excelente, isso, sim, transforma-me.

O ‘Retóricas’ de Perelman fez isso comigo. Ao proporcionar-me acesso a pensamentos que eu não teria por meio de meus próprios esforços cognitivos, possibilitou-me um crescimento intelectual relevante dentro desse tema. Mostrou-me, definitivamente, que os estudos na área da argumentação superam, em muito, o simples desenvolvimento de técnicas para se obter o convencimento, mas envolvem a reflexão de suas próprias possibilidades epistemológicas e das condições psicológicas de seu exercício.

Os erros fatais do socialismo

Livros que mostram, por diversos aspectos, os erros cometidos pelos comunistas há aos montes. A literatura que demonstra, com detalhes e documentações, que o socialismo não deu certo em lugar nenhum e transformou-se em uma chaga para a sociedade é abundante.

Diante disso, podemos nos questionar: o que a obra “Os erros fatais do socialismo”, de Friedrich August von Hayek, teria para acrescentar a essa multidão de informações já existentes?

A originalidade de Hayek está em sua abordagem. Diferente de outros autores, que concentram suas observações, muitas vezes de maneira genial, nos erros cometidos pelos socialistas, ele simplesmente pressupõe esses erros para, então, rastrear suas origens. Seus olhos não estão sobre os equívocos em si, mas nas causas racionais deles. Assim, o pensador austríaco entrega para o leitor uma análise profunda das raízes – muitas delas remotas – do fracasso comunista.

Se eu pudesse sintetizar a idéia central dessa obra grandiosa seria assim: os processos da ordem ampliada – que é como o autor chama a civilização avançada – são complexos e, a primeira vista, indetectáveis. Apenas uma análise profunda de seus mecanismos pode desvelar os procedimentos que ocorrem em seu interior e que são o sustentáculo e o motivo de sua força e prosperidade. Sendo assim, para aqueles que possuem uma visão mecanicista da sociedade e acham, com isso, que podem planejar sua economia, os processos envolvidos no desenvolvimento e sustentação da sociedade são incompreensíveis. Essa incompreensão é a causa primeira dos erros socialistas. Ela é o motivo porque as tentativas de implantação de uma economia planejada, por parte dos revolucionários, nunca dão certo e se transformam em um flagelo para todos.

Nesse trabalho, Hayek, mais do que apresentar fatos, faz uma análise histórico-cultural da civilização, com o objetivo de mostrar que os erros socialistas não são apenas falhas de aplicação, mas equívocos estruturais. Assim, seu livro configura-se numa obra de vulto, com uma profundidade analítica acima da média em comparação com outros que abordam o mesmo tema.

Apresentação do Ortodoxia, de Chesterton

Não se engane pelo nome! O Ortodoxia não é uma defesa da fé baseada em doutrinas expostas em letras frias. Nem uma apologética teológica e dogmática, combatendo heresias com citações bíblicas. Na verdade, essa obra é uma celebração da descoberta de que o sentido da vida não precisa ser buscado em divagações exóticas, nem em idéias mirabolantes, mas esteve sempre disponível, bem diante de nós.

Chesterton, com sua tinta ácida e estilo que beira o jocoso, ao mesmo tempo que destrói a pretensão intelectual daqueles que supõem pensar de maneira desapegada dos princípios, conduz o leitor para a compreensão de que, na verdade, esses princípios nunca deixaram de estar ali, mesmo para quem não os aceita ou enxerga.

Para quem acredita que a pessoa inteligente é aquela que pensa por si mesma, o polemista expõe suas falácias e equívocos de uma maneira tão avassaladora, que no final não sobra nada com que tenham de que se orgulhar.

Por outro lado, para os cristãos vacilantes, que se sentem constrangidos diante de um pensamento mundano que lhes oprime, acusando-os de retrógrados e inferiores, o Ortodoxia lhes dá uma definitiva lição: de que o que possuem é muito maior do que qualquer filosofia avulsa que exista por aí.

Ler esse livro é descobrir, a cada página, que não estamos perdidos. É verdade que, muitas vezes, sentimos que o mundo é complexo demais para ser compreendido e a vida difícil demais para ser vivida. Porém, basta olhar para trás, para aquilo que sempre esteve ali, disponível para qualquer um, e vamos ver que não é que a existência é complicada, mas nós que nos afastamos, por orgulho e rebeldia, da verdade.

Essa obra de Chesterton é a desmoralização do pensamento independente, que toma suas percepções desapegadas de princípios como fonte legítima de filosofias. O que ela mostra é que há uma sabedoria subjacente a tudo e, sem ela, toda perscrutação é vã.

Digo, mais uma vez: não se enganem, porém, pelo nome! Ortodoxia está longe de ser uma defesa doutrinária. Pelo contrário! O pensador inglês faz até um convicto louvor ao que ele chama de misticismo, que, segundo sua concepção, significa nada menos que a aceitação do mistério, como parte da sanidade da inteligência.

Ler esse livro é, enfim, uma experiência única! Para aqueles que confiam demasiadamente em seus próprios livre-pensamentos, pode ser como a exortação de um profeta, alertando-os para o perigo de sua maneira de agir; já para aqueles que, como o filho pródigo, esqueceram, por um tempo, suas raízes, despendendo suas energias na dispersão mundana, o Ortodoxia pode soar como o pai chamando, com os braços abertos, de volta para casa.

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A Nova Era e a Revolução Cultural, de Olavo de Carvalho

Há poucos dias reli o livro “A Nova Era e a Revolução Cultural”, do filósofo Olavo de Carvalho, e ao fazer isso a certeza que eu tive é de que realmente o professor está muito a frente de qualquer outro pensador neste país. O livro é de 1994, mas a análise que ele faz dos fatos, principalmente do movimento esquerdista brasileiro e sua influência na cultura e na política, é esclarecedora. Enquanto a maioria daqueles que tentam explicar o fenômeno petista, ainda hoje, se debatem em dificuldades que parecem, aos seus olhos, intransponíveis, Olavo já deixou tudo muito bem explicado em seu trabalho escrito há mais de vinte anos.

Além da explicação sobre o fenômeno da Nova Era e a aula sobre a estratégia gramsciana, que são a parte central do livro, há diversos outros argumentos que, além de atualíssimos, são a solução para o imbróglio interpretativo que os analistas políticos fazem em relação ao PT. Se eles parassem um pouquinho de apenas tentar dar palpites aleatórios e dedicassem alguns minutos para ler o trabalho do professor, muitas besteiras que repetem por aí cessariam imediatamente.

Por exemplo, sobre a classe artística e intelectual, que temos visto se manifestando em uma defesa irrestrita do PT, Olavo de Carvalho explica que “intelectuais orgânicos são aqueles que, com ou sem vinculação formal a movimentos políticos, estão conscientes de sua posição de classe e não gastam uma palavra sequer que não seja para elaborar, esclarecer e defender sua ideologia de classe“. E ainda sobre isso ele explica que “Gramsci exige que toda atividade cultural e científica se reduza à mera propaganda política, mais ou menos disfarçada“.

Sobre a loucura que temos observado no país, com a total inversão de valores, ele já dizia que ela “é, de fato, um dos objetivos prioritários da revolução gramsciana“.

Da mídia, que temos visto atuar de maneira a tentar manipular os fatos, por meio de matérias jornalísticas enviesadas, o professor escreveu que “para a revolução gramsciana vale menos um orador, um agitador notório, do que um jornalista discreto que, sem tomar posição explícita, vá delicadamente mudando o teor do noticiário…

Temos presenciado atualmente pessoas que, mesmo não fazendo parte do partido, repetem os mesmos chavões, os mesmos preconceitos e as mesmas mentiras dele. Olavo já explicou isso em seu livro ao dizer que “o gramscismo conta menos com a adesão formal de militantes do que com a propagação epidêmica de uma novo senso comum“.

Além disso, conseguimos saber que a derrocada moral que ocorreu no país na última década não é obra do acaso, afinal “o objetivo do gramscismo é muito amplo e geral em seu escopo: nada de política, nada de pregação revolucionária, apenas operar um giro de cento e oitenta graus na cosmovisão do senso comum, mudar os sentimentos morais, as reações de base e o senso das proporções“.

E há ainda algumas pérolas, como quando ele diz que “quanto menos um homem é apto a enxergar o mundo, mais assanhado fica de transformá-lo”.

Tudo isso torna o “A Nova Era e a Revolução Cultural” indispensável para qualquer um que pretenda analisar os fatos da política e da sociedade brasileiras e entender o que está acontecendo. Se fizessem isso, não cometeriam equívocos pueris, como tratar tudo apenas como um problema de corrupção e patrimonialismo, e compreenderiam que por detrás da política cotidiana, há uma verdadeira guerra cultural, com o objetivo de cativar as mentes em favor da ideologia.

Maquiavel ou A Confusão Demoníaca

Normalmente, a análise de um autor se dá por aquilo que ele escreveu. Quem se debruça sobre as ideias de um pensador costuma vasculhar os meandros de suas obras, na busca de entender até os detalhes mais recônditos naquilo que foi publicado ou mesmo nos escritos que permaneceram privados durante todo o tempo.

O que o Olavo de Carvalho faz nesta obra sobre Maquiavel, porém, é ir muito além disso. Sem desconsiderar aquilo que o florentino escreveu, mas usando-o apenas como norte de sua pesquisa, o professor se desvencilha das meras palavras externalizadas pelo escritor para buscar principalmente naquilo que ele deixou de publicar o verdadeiro sentido de sua obra.

Na verdade, o autor de O Príncipe acaba por ser desmascarado, mostrando o quanto sua indiscutível influência sobre o pensamento político ocidental pode ser considerado como algo extremamente pernicioso.

Se considerarmos que a obra de Maquiavel teve grande influência sobre Gramsci, Hitler, Stálin, Mussolini e até Fernando Henrique Cardoso, nós podemos ter uma ideia muito clara do perigo que ela representa, principalmente quando, ao ler esse trabalho de Olavo de Carvalho, aprende que o pensador italiano não pode ser levado tão a sério em relação aquilo que deixou para a posteridade, mas deve ser compreendido no que tentou ocultar.

As próprias diversas interpretações dadas a Maquiavel por outros escritores, tirando dele inúmeras facetas, muitas vezes até contraditórias entre si, já são prova suficiente de que o florentino, apesar da aparente demonstração de pragmatismo político, na verdade escondia uma figura muito mais confusa.

E o professor Olavo traz tudo isso à lume, mostrando para seus leitores o quanto a obra maquiavélica pode conter de intenções ocultas, falsidades ou, simplesmente, desordem.

Ler Maquiavel ou A Confusão Demoníaca se torna algo obrigatório para quem deseja ter uma iluminação das razões porque o Ocidente se meteu em aventuras políticas tão esdrúxulas, ao eleger como sua inspiração os pensamentos de quem se pode dizer, no mínimo, que possuía uma mente atrapalhada.

Maquiavel

Publicado originalmente no NEC – Núcleo de Ensino e Cultura

Cenas da Nova Ordem Mundial, de Sergio A. A. Coutinho

Em um artigo escrito há algum tempo, indiquei o livro Fascismo de esquerda, escrito por Jonah Goldberg, como forma de entender o funcionamento, a atuação e a mentalidade das esquerdas e como elas usam os poderes políticos, econômicos e culturais para se impor e se consolidar no poder. Realmente este é um livro incrível! No entanto, sendo um escritor americano, Goldberg analisa a história americana, dissecando as táticas esquerdistas nos Estados Unidos. Ainda assim, o que ele apresenta é muito instrutivo e ajuda, mesmo o leitor que não vive a realidade daquele país, a entender como agem e pensam os marxistas, em geral.

Mas antes que o leitor brasileiro creia estar abandonado e que para entender como se deu a formação esquerdista em seu próprio país precise acessar apenas documentos esparsos ou trechos espalhados em livros diversos, é bom que ele conheça uma obra publicada pela sempre relevante Biblioteca do Exército, chamada Cenas da Nova Ordem Mundial – uma visão do mundo como ele é, escrita pelo Gen. Sérgio Augusto de Avellar Coutinho.

Sendo uma reedição atualizada do trabalho Cadernos da Liberdade, do mesmo autor, o livro, antes de tudo, pretende ser um contraponto ao conhecido Cadernos do Cárcere, de Antonio Gramsci, mostrando ao público como está se formando uma Nova Ordem Mundial, baseada no socialismo e alcançada por meio dos métodos de dominação ensinados pelo autor italiano. No entanto, o trabalho do General vai além disso e faz uma dissecação da formação da esquerda contemporânea no Brasil. Sem deixar de explicar como o comunismo nasceu e se espalhou pelo mundo, ele apresenta, com fatos e análises, também como a esquerda brasileira se tornou o que ela é, quais são seus objetivos, quais as táticas empreendidas, quais suas inspirações e como ela se consolidou no poder.

O livro todo é recheado de dados e informações que tornam essa obra uma das melhores referências sobre a história do esquerdismo no Brasil. De Prestes ao atual PT, passando pelos comunistas dos anos 40 e 50, os guerrilheiros da época da ditadura e a nova intelligentsia marxista, Coutinho consegue fazer com que o leitor tenha uma visão, ao mesmo tempo, panorâmica e detalhada, do que é a esquerda brasileira.

Apresentando assim, parece até que o livro tem como objetivo fazer um raio-x do socialismo nacional. Não, não tem! Na verdade, a obra é uma tentativa de explicar o mundo, principalmente em sua composição após a queda da União Soviética. No entanto, o autor, de maneira bastante competente e patriótica, não se eximiu de analisar como os esquerdistas brasileiros, que estão no poder desde a chamada reabertura democrática, se inserem nesse panorama global.

Para o General Coutinho, o termo Nova Ordem Mundial não tem tanto a ver com um projeto monolítico de dominação mundial por uma elite de bilionários, mas, sim, um momento novo na história geopolítica do mundo, quando, com o colapso da União Soviética, o jogo político global se tornou mais complexo do que na época da guerra fria, mantendo, porém, um dos atores ainda bem vivo e atuante, se bem que por meio de novas facetas, a saber, o movimento comunista. Diante disso, ele faz uma análise profunda das origens, desenvolvimento e implantação do socialismo no mundo e no Brasil.

E nenhuma vertente socialista escapa da observação e julgamento do escritor. Dos stalinistas mais radicais, até os socialistas fabianos, todos são investigados por ele e postos em seus devidos lugares na história. Mesmo os contemporâneos FHC, Lula, e até Roberto Freire estão no campo de observação do General. Com isso, o leitor tem acesso a uma análise muito ampla do movimento esquerdista brasileiro, o que torna o livro um dos poucos documentos onde essas informações podem ser encontradas em um único lugar, com detalhes e pareceres competentes.

O trabalho, em sua ideia original, parece ter sido concebido para expor a malignidade das ideias gramscianas, mostrando o quanto elas foram absorvidas pelas esquerdas e vêm sendo implantadas meticulosamente na sociedade. No entanto, a obra extrapola isso e acaba por fazer um apanhado bem amplo do mundo de hoje, suas perspectivas, o perigo que sofre e como ele está se tornando uma grande aldeia socialista.

Minha recomendação por essa obra se dá, principalmente, por oferecer ao leitor brasileiro uma visão bem fundamentada do movimento socialista mundial e, neste caso específico, uma compreensão de como a esquerda de nosso país se relaciona com o comunismo internacional. É verdade que há diversos aspectos não abordados pelo autor, porém, o grande mérito desse livro é aglutinar informações, que temos apenas em documentos muito esparsos, em um só lugar.

Cenas da Nova Ordem Mundial é leitura sugerida para quem quer entender como, após o fim da União Soviética, os comunistas se reagruparam, quais táticas estão implantando atualmente, como o mundo está sendo dominado por sua ideologia e qual a posição dos socialistas brasileiros nisso tudo.

Fascismo de Esquerda

Fascismo de esquerda

O livro Fascismo de Esquerda, de Jonah Goldberg, é, sem dúvida alguma, um dos mais importante trabalhos sobre política dos últimos tempos. O autor, em uma demonstração de profundo conhecimento da história americana do século XX, traz, diante dos nossos olhos, a verdadeira face do progressismo nos Estados Unidos, sem as máscaras e fantasias que ele costuma se apresentar para o público.

É notório que, no imaginário da maioria das pessoas, o fascismo é visto como um fenômeno de direita. Tanto ele como o nazismo são tidos como representantes de uma manifestação reacionária, que tem na esquerda sua antagonista. Goldberg, porém, desmonta esse mito com maestria, demonstrando, com um material farto em referências históricas, como o fascismo é um movimento que não apenas possui similaridades com os projetos de esquerda, mas foi promovido por verdadeiros personagens esquerdistas.

Não há como negar que Franklin Roosevelt tem muito mais a ver com Mussolini do que Reagan jamais poderia sonhar, nem que os projetos dos progressistas eram muito parecidos, em seus princípios e objetivos, com os dos fascistas das primeiras décadas do século passado. E, partindo desse ponto, o autor faz um trabalho de iconoclastia, colocando no chão os ídolos esquerdistas americanos, demonstrando como suas ideias estavam, e continuam a estar, lado a lado com muitas das ideias de Hitler e Mussolini.

Se alguém não acredita nisso, leia o livro e comprove. Não é possível sair dele ainda crendo que a esquerda é um movimento cheio de boas intenções e que são os conservadores o verdadeiro perigo.

Fascismo de esquerda é daqueles livros que muda a cabeça das pessoas. A minha não mudou tanto, pois a admiração que eu tinha pelos esquerdistas morrera há muitos anos. Porém, se esse livro cair nas mãos de alguém que ainda tem alguma ilusão quanto à pureza dos projetos socialistas, certamente ele causará um forte impacto em suas ideias.

Totalitarismo, ataque à liberdade, estatismo, coletivismo e tantos outros meios de impor sobre o cidadão o peso de um Estado autoritário sempre foram obras de políticos de esquerda. Foram eles que sempre diminuíram o indivíduo à mera partícula da sociedade. Assim, se o fascismo puder ser caracterizado pelo governo autoritário e pela diminuição da liberdade individual em favor de uma sociedade orgânica, comunitária e planificada, Jonah Goldberg conclui, com toda razão, que essas características sempre fizeram parte dos sonhos progressistas na América. Portanto, se há um fascismo, ele só pode vir da esquerda americana.

Introdução à Nova Ordem Mundial, de Alexandre Costa

Um livro, quando traz em seu título a palavra Introdução, isso pode tratar-se de três coisas: que é um livro superficial e o autor escolhe esse nome para não decepcionar seus leitores; que é um livro que trata o tema com profundidade, mas o autor escolhe esse nome por acreditar que seria possível aprofundar-se ainda mais, mas não o fez por falta de espaço ou tempo; ou, simplesmente, que o livro tem o intuito de ser mesmo uma introdução, ou seja, a entrada para estudos posteriores mais detalhados.

No caso do livro de Alexandre Costa, Introdução à Nova Ordem Mundial, certamente trata-se do terceiro caso. A obra é como um portal que conduz o leitor a uma gama considerável de informações relativas às diversas facetas que o mundo novo tem apresentado. Sem a pretensão de esgotar o assunto, o livro torna-se imprescindível exatamente por servir como um trabalho inaugural para quem deseja iniciar seus estudos sobre o assunto.

Se você nunca leu nada sobre o tema, aconselho: comece por este livro. No final, você terá uma visão bem ampla e bem estruturada sobre os rumos do novo mundo. Se você, porém, já leu algum outro livro sobre o assunto, leia este também, pois, apesar de ser uma obra de introdução, ela está tão bem organizada que lhe ajudará a colocar em ordem as ideias que talvez, até aqui, apenas fossem um amontoado de informações.

A influência de Olavo de Carvalho é inegável. Inclusive, Alexandre Costa não nega, em nenhum momento, a dívida que tem para com o pensamento do filósofo. Aliás, quem desta nova geração de estudiosos conservadores pode negá-la? Ainda assim, consegue ser autêntico em seu trabalho, imprimindo sua forma de enxergar os dados que colheu em, certamente, um tempo considerável de pesquisa.

O que podemos ver, portanto, é o trabalho pedagógico do filósofo sessentão já começando a produzir seus frutos. Seu aluno deixou à disposição dos leitores um bom material de pesquisa, que facilmente pode ser utilizado em palestras e seminários sobre o assunto. Introdução à Nova Ordem Mundial preenche uma lacuna nas prateleiras brasileiras. Não que a matéria já não houvesse sido tratada por outros autores, mas faltava um trabalho que pudesse ser considerado didático, realmente introdutório e, acima de tudo, abrangente.

O livro, de fato, terá um lugar especial em minha biblioteca, pois será objeto de consulta constante quando eu tiver tratando do tema Nova Ordem Mundial.

O MISSIONÁRIO E O ÍNDIO ou a superioridade de uma cultura em relação a outra

Dentro do ambiente acadêmico brasileiro, dizer que uma sociedade é superior a outra soa arrogante. É que, hoje em dia, há uma convenção, alardeada por todas as esferas ditas intelectuais deste país, de que não há diferenças valorativas entre as culturas. Com isso, toda alusão ao progresso e às conquistas de um povo acaba recebendo o estigma de preconceituosa. Apontar os erros históricos de nações ou identificar que práticas de uma cultura são inferiores, sem valor ou até maléficas, chega a ser considerado um crime.

A universidade brasileira está tomada por essa ideia. Praticamente, não há um professor de Sociologia, Antropologia ou História que não repita essa mesma ladainha. E o aluno que ousar contestar isso, certamente, será tido por intolerante, quando não ignorante.

Para mostrar como a ideia de igualdade valorativa das culturas está fundada em falácias, trago como amostra o que escreveu, em um livreto muito acolhido nas faculdades brasileiras, chamado Etnocentrismo, o professor da PUC-Rio, Everardo Rocha.

Logo no início do livreto, o autor conta uma estória:

Ao receber a missão de ir pregar junto aos selvagens, um pastor se preparou durante dias para vir ao Brasil e iniciar no Xingu seu trabalho de evangelização e catequese. Muito generoso, comprou para os selvagens contas, espelhos, pentes etc.; modesto, comprou para si próprio apenas um moderníssimo relógio digital capaz de acender luzes, alarmes, fazer contas, marcar segundos, e até dizer a hora sempre absolutamente certa, infalível (…) Tempos depois, fez-se amigo de um índio muito jovem que o acompanhava a todos os lugares de sua pregação e mostrava-se admirado de muitas coisas, especialmente, do barulhento, colorido e estranho objeto que o pastor trazia no pulso e consultava frequentemente. Um dia, por fim, vencido por insistentes pedidos, o pastor perdeu seu relógio dando-o, meio sem jeito e a contragosto, ao jovem índio.

Na sequência, o professor fala do destino dado ao relógio pelo índio:

A surpresa maior estava, porém, por vir. Dias depois, o índio chamou-o apressadamente para mostrar-lhe, muito feliz, seu trabalho. Apontando seguidamente o galho superior de uma árvore altíssima nas cercanias da aldeia, o índio fez o pastor divisar, não sem dificuldade, um belo ornamento de pensas e contas multicolores tendo no centro o relógio.

E termina a estória, narrando o retorno do missionário para sua terra:

Passados mais alguns meses o pastor se foi de volta para casa. Sua tarefa seguinte era entregar aos superiores seus relatórios e, naquela manhã, dar uma última revisada na comunicação que iria fazer em seguida aos seus colegas em congresso sobre evangelização (…) Como que buscando uma inspiração de última hora examinou detalhadamente as paredes do seu escritório. Nelas, arcos, flechas, tacapes, bordunas, cocares, e até uma flauta formavam uma bela decoração.

É na sua conclusão, no entanto, que o professor Everardo Rocha, demonstra como ele pode ser considerado um modelo exato da fragilidade do pensamento universitário brasileiro. Isso porque ele simplesmente afirma que ambos os personagens fizeram, obviamente a mesma coisa. Privilegiaram ambos as funções estéticas, ornamentais, decorativas de objetos que, na cultura do “outro”, desempenhavam funções que seriam principalmente técnicas.

O que ele disse parece até correto, se não tivesse implícita uma percepção equivocada dos fatos, que ele vai deixar clara na sequência, quando afirma, sobre o índio e o pastor, que cada um “traduziu” nos termos de sua própria cultura o significado dos objetos cujo sentido original foi forjado na cultura do “outro”.

Seu equívoco reside, exatamente, em interpretar que o pastor, ao dar um destino decorativo para os objetos indígenas, agiu da mesma maneira e com o mesmo intuito que o índio, quando este ornamentou o relógio recebido de presente.

Ao tentar mostrar uma equivalência nos atos, tentando, assim, mostrar que as culturas simplesmente são diferentes, mas não, necessariamente, superiores ou inferiores, o autor acaba demonstrando exatamente a superioridade da cultura do missionário.

Isso porque, diferente do índio, o missionário deu um destino ornamental aos instrumentos indígenas, não por não saber para o que eles serviam, mas exatamente pelo contrário. As flechas, a flauta e o cocar nas paredes de seu escritório remetiam, para quem que os contemplasse, para a realidade da vida dos índios e para o uso adequado dado aos objetos no contexto próprio destes.

Ao contrário do que o professor Everardo disse, os personagens não fizeram a mesma coisa. O autor, ao tentar mostrar equivalência de intenções onde havia apenas similaridade exterior acaba provando exatamente o contrário do que pretendia.

Isso porque, ao pendurar em suas paredes os objetos indígenas, tendo plena consciência, obviamente, de qual era o destino dados pelos próprios índios a cada um daqueles instrumentos, o missionário demonstrou entender exatamente, não apenas a realidade de sua própria cultura, mas também a alheia. O jovem índio, por outro lado, ao ornamentar o relógio recebido do pastor e pendurado ele em uma árvore, simplesmente porque não sabia usá-lo e não compreendia qual sua utilidade na cultura do visitante, demonstrou sua ignorância quanto a tudo isso.

 O que o autor do livreto acabou provando é que a cultura do missionário é, no mínimo, mais abrangente que a do índio. Sendo assim, provou, também, se bem que sem perceber isso, que a cultura do pastor é, de alguma maneira, superior, sim, já que pode perfeitamente absorver a cultura indígena se quiser, pois tem plena consciência de como ela funciona.

Isso porque o valor de uma cultura é medido pela presença nela de elementos universais, que a possibilitem exatamente transitar por outras culturas sem perder sua própria identidade. É por isso que a cultura europeia era considerada superior à indígena latino-americana, pois podia ingressar no ambiente cultural desta sem sofrer perda de suas próprias características. Já uma cultura como a aborígene, por exemplo, por ser inferior, não sobrevive, sem perder sua essência, se for inserida em outros ambientes culturais.

O professor Everardo Rocha não ter percebido algo tão óbvio, sendo que seu trabalho é acolhido em tantas universidades brasileiras, apenas confirma a pobreza intelectual que assola nossa academia.