Meus alunos sempre me perguntam: “Professor, por onde eu começo a estudar filosofia? O que eu devo ler primeiro? Quais os autores eu devo estudar em primeiro lugar?”. Minha resposta sempre é muito clara: antes de estudar os autores propriamente ditos e seus escritos, pense na filosofia como um indivíduo, como um ser em desenvolvimento, como uma pessoa que passa por um processo de amadurecimento.

A tendência de todo professor de filosofia é orientar a começar os estudos pelos primeiros filósofos, aqueles que inauguraram a filosofia, os pré-socráticos, especialmente Platão e Aristóteles. Considero este conselho muito bom, porque, fazendo isso, o estudante pode ir evoluindo junto com a própria filosofia, conforme ela foi se manifestando no tempo. 

No entanto, estudar filosofia partindo diretamente dos autores apresenta um problema: perde-se o contexto histórico e, principalmente, as circunstâncias da própria discussão trazida pelo pensador. Devemos lembrar que aquilo que é discutido por um filósofo já tem toda uma história por detrás que não, necessariamente, é exposta por ele, porque, para ele, está subentendida. Esse é o chamado “estado da questão” e, sem este, muito do que está sendo tratado é incompreensível. 

O pensador, quando expõe seu pensamento, traz todas essas coisas como já dadas, como já sabidas e o leitor, que toma esse texto muitos séculos depois, não tem como captar tudo isso. Por isso, quando o estudante inicia suas leituras diretamente pelos autores, um erro comum que ele comete é interpretar, segundo sua própria perspectiva, aquilo que o filósofo expõe. Isso faz com que muito do que é lido seja interpretado de maneira equivocada, não refletindo exatamente o que o filósofo quis dizer.

Por isso, quando eu trato sobre o começo dos estudos da Filosofia, aconselho o estudante a, antes de tudo, procurar ter uma visão geral do desenvolvimento do pensamento filosófico. Eu proponho que se tenha uma visão panorâmica da evolução das discussões filosóficas para, a partir daí, iniciar, de fato, os estudos. A ideia é tratar a Filosofia como um indivíduo, que está em desenvolvimento e acumula, inclusive, experiência; observá-la desde sua infância até sua maturidade e, talvez, senilidade.

Quando se tem uma visão geral, ou seja, uma visão que abarca a sequência histórica das discussões, tem-se, com isso, uma noção mais clara dos estágios de cada uma delas, conforme o contexto de cada época. Assim, obtém-se uma ideia não apenas do que está sendo discutido, mas como esses assuntos se encaixam dentro do desenrolar histórico das ideias.

Nesse processo de abarcamento da visão panorâmica da história da filosofia, não é necessário se aprofundar nos autores, nem mergulhar nos assuntos. Basta simplesmente saber o que cada um falou, o que cada um defendeu, contra o que se levantou, tendo, assim, uma visão mais exata do que ele estava tratando. Isso já é suficiente para se entender o contexto, entender o “estado da questão” e estar preparado para compreender realmente sobre o que aqueles filósofos estavam falando.

Após adquirir essa visão panorâmica da história da filosofia, o aluno poderá, então, adentrar nos textos, de primeira mão, dos filósofos com muito mais propriedade, preparados para “discutir” com eles exatamente aquilo que está sendo apresentado.