Destruir é fácil; criticar é confortável. Colocar-se na posição de quem vive a acusar os erros alheios é como apontar um canhão de dentro de uma casamata. Há pouco risco e faz-se muito estrago.
O pensamento crítico, tão exaltado, muitas vezes, é apenas o apontamento do óbvio. É que o erro, em boa parte dos casos, é algo tão evidente, detectável por qualquer mente sadia, que apontá-lo chega a ser quase uma tautologia. Não que discerni-lo seja equivocado, mas não deixa de ser, muitas vezes, também, só oportunismo.
Não é à toa que tanta gente se especializa na crítica. A pessoa só tem a ganhar com isso. Mantém-se na posição cômoda de dizer sobre o erro que vê – ou acha que vê – e não precisa expor-se. Afinal, se sujeita ao juízo quem faz; o julgador apenas paira impavidamente acima das vissicitudes humanas.
O que a crítica, muitas vezes, esconde, é o fato de que, no mundo das escolhas, nem tudo é tão óbvio quanto parece. Um ato, que é o efeito de uma decisão, sofre tantas influências que, não é incomum, parecer, à primeira vista, desacertado, quando, entre as opções possíveis, é apenas o menos pior.
Isso é muito comum em política, por exemplo, onde os jogos de poder e de acordos não se tratam de valores óbvios, nem absolutos. Uma decisão política pode parecer equivocada, quando observada sem o conhecimento de todas as circunstâncias que a envolveram. Vista, porém, diante da realidade que a cerca, pode ser que ela se configure como a melhor entre as hipóteses possíveis.
Quando alguém aponta um aparente erro, costuma ser visto como uma pessoa razoável, até admirável. Experimente, porém, exigir dela que, além do equívoco realçado, apresente qual seria a alternativa considerada, por ela, melhor. Não será surpreendente perceber que a opção exibida é pior do que aquela contestada.
Pôr abaixo qualquer coisa é simples. Lembro de quando eu era um garotinho, de uns seis anos de idade, que, junto com um amigo, um pouco mais velho do que eu, passávamos horas batendo, com pedras que carregávamos em nossas mãos, em um muro de uma casa abandonada que ficava na rua onde morávamos. Todo dia, íamos até lá e, pouco a pouco, descascávamos aquele muro velho. Até que aconteceu, depois de tanto fazermos aquilo, o que parecia impossível para dois pirralhos: o muro veio abaixo. Se pedissem para que levantássemos uma construção que fosse um décimo do tamanho daquele muro não conseguiríamos, mas fazê-lo cair foi algo que até dois fedelhos foram capazes. Destruir a obra alheia é, de fato, trabalho para qualquer um; construir, porém, para poucos.
As pessoas deveriam ser avaliadas, principalmente, pelo que se propõem erigir, não apenas pelo que elas combatem. Se para entender as idéias de alguém pode ser importante saber contra o que se levanta, para desmascará-lo, sendo ele um charlatão, basta exigir dele que apresente as alternativas, que tem em sua mente, ao que critica. Ao fazer isso, revelar-se-á, invariavelmente, que a crítica pode parecer muito inteligente, mas a alternativa, muitas vezes, é bastante estúpida.
Exaltar quem vive de mostrar as falhas alheias pode ser um erro, pois pode fazer você associar-se intelectualmente a alguém que, a despeito de aparentar sabedoria, não passa de um iconoclasta.
E para não se transformar, você também, em um deles, é mister, antes de fazer qualquer crítica, perguntar-se quais são às alternativas possíveis àquela a ser criticada. Se revelar-se algo melhor ao que foi feito, mantenha a censura. Caso contrário, é melhor calar-se.
Excelente texto!
Muito bom! A semelhança deste texto com a “crítica de Anton Ego” na animação Ratatouille é impressionante. Ambos são precisos.