Existem ideias e expressões que são postas em circulação e são fruto de uma irresponsabilidade sem igual. Muitas das pessoas que as repetem não param para pensar sobre as consequências do que dizem. Apenas seguem replicando-as, certas de que defendem algo razoável quando, de fato, amplificam uma injustiça e inverdade.

É como o caso dessa incansável repetição sobre a existência de uma tal “cultura do estupro”, que acaba sendo o exemplo perfeito de uma macaquice que toma as gentes e as transforma em meros canais de disseminação de preconceitos e conteúdos ideológicos.

A expressão “cultura do estupro” surge no seio do movimento feminista americano, nos anos 70, e se refere a um ambiente no qual o estupro é predominante e a violência sexual contra as mulheres é normalizada. O que as feministas querem dizer é que os homens ocidentais crescem nesse ambiente e, portanto, acabam assimilando as ideias dispostas nele, assumindo que agredir sexualmente uma mulher é algo normal.

Assim, quem repete essa ideia está nada menos que acusando todos os homens como eu; como os leitores do sexo masculino; como seus pais, irmãos, amigos e cônjuges, minhas caras leitoras, de estupradores em potencial. Isso mesmo! Elas simplesmente colocam todos os homens no mesmo saco dos criminosos e violentadores e acham que dizer isso é algo absolutamente normal.

Sinceramente, em minhas quatro décadas de vida, não lembro de ter conhecido alguém que achasse a violência contra a mulher aceitável. E creio que a minha experiência não é diferente da verificada pela maioria das pessoas. Ainda assim, existem aquelas que insistem na existência dessa cultura.

É certo que o problema das mulheres violentadas sexualmente no Brasil é absurdo. Cinquenta mil estupros por ano é uma barbárie, de fato. Mas uma barbárie também é o número, ainda maior, de homicídios. E quem tem coragem de dizer que todo brasileiro é um homicida em potencial?

Na verdade, a questão da violência no Brasil é mundo mais profunda. É algo relativo à impunidade e à liberdade dos maus. Não tem nada a ver com as pessoas comuns que são colocadas ao lado de bandidos e estupradores. Não tem nada a ver com os homens que se escandalizam quando sabem que uma mulher foi violentada. Aliás, lembre-se de qual o tratamento dado aos violadores sexuais nas prisões e tenha uma ideia clara sobre o que o brasileiro acha do estupro.

Mas o que o movimento feminista quer é levantar sua bandeira sexista e manipular as mulheres, criando nelas um estado de paranoia, fazendo com que não deixem de olhar para qualquer homem sem deixar de ver nele uma ameaça.

A contradição nisso tudo é que esse mesmo movimento feminista, como participante dos grupos de esquerda, é contra o armamento dessas mesmas mulheres, o que seria a solução para evitar tantos estupros no país; e contra a redução da maioridade penal, o que atingiria muitos dos atuais estupradores. Basta isso para demonstrar que as feministas estão longe de estar preocupadas com as mulheres violentadas. O que elas querem mesmo é impor sua agenda ideológica e fomentar o conflito entre os sexos, o que faz parte de sua estratégia histórica, nem que tenham de usar aquelas mesmas que dizem defender.

Publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, de 07 de junho de 2016