Revoltosos conclamam a destruição de símbolos públicos como forma de romper com o passado, o qual consideram um erro a ser esquecido. Hoje, derrubam estátuas, mas já vínham arrancando cruzes. No fim, querem simplesmente apagar a história a marretadas, para que sobrevivam, nas mentalidades atuais, apenas suas ideias revolucionárias.

A iconoclastia não é novidade na história. Sempre existiram grupos, principalmente de cunho religioso e ideológico, que a praticaram. Um dos exemplos mais icônicos e atuais foi a Revolução Cultural chinesa que não apenas destruiu os símbolos do passado, mas decidiu mandar para o além os próprios representantes humanos desses símbolos.

No entanto, o orgulho daqueles que se propõem a apagar o passado denota uma falta de visão histórica, típica de quem vive se aproveitando das benesses da contemporaneidade como se elas fossem uma dádiva divina concedida magicamente às mentes da presente geração.

Iconoclastas não entendem que todas as conquistas do presente trazem embutidas dentro de si todos os erros e acertos do passado, sem os quais não existiriam. Esses erros e acertos são como células que compõem o corpo atualmente existente; como genes dos quais não é possível se livrar. Cada passo dado anteriormente é como um degrau em uma escada e a retirada de qualquer um desses degraus faz ruir tudo o que estiver acima deles.

A sociedade, como os indivíduos, é o resultado de suas próprias experiências. Sem estas, não seríamos o que somos. Se há alguma justiça, alguma consciência, alguma compreensão da realidade, isso deve-se a tudo o que já se experimentou, de bom e de ruim, de certo e de errado.

Nas sociedades, como nos indivíduos, quando os erros do passado são reprimidos, cria-se uma neurose. E uma das características mais marcantes do neurótico é tentar esconder violentamente o passado, ocultando-o desesperadamente de seu campo de consciência.

Preservar o passado não significa reconhecer que tudo o que ocorreu é digno de louvor, mas é fato que o passado não pode ser apagado. Pelo contrário, ele deve estar lá para lembrarmos do caminho que trilhamos até chegarmos onde estamos.

A sociedade normal entende a importância de compreender o passado naturalmente. Tanto que Hitler é provavelmente o personagem moderno mais estudado entre todos. No entanto, revolucionários não costumam ser normais e acreditam que podem, sem custo algum, jogar a história na fornalha de Orwell.