O analista político Alexandre Borges detectou diversas semelhanças entre o discurso de posse do presidente Donald Trump e a retórica do New Deal, de Franklin Rossevelt.

De fato, elas existem! A convocação do povo, a colocação do país como uma força superior, o alvoroço nacionalista e todas essas coisas que lembram bastante a proposta do ex-presidente americano estiveram presentes em sua fala.

No entanto, é preciso fazer duas ressalvas:

Primeiro, os tempos são outros! Roosevelt assumiu no período entreguerras, quando o fascismo era um tipo novo de visão política e ainda não desmoralizado, como ficou após o fim dos conflitos. Pelo contrário, o fascismo, apesar de não ter sido assumido por todos, se apresentava como um modelo plausível, uma nova esperança após a Grande Depressão e os efeitos da Primeira Guerra. O fascismo não causava o rechaçamento de hoje, nem era um símbolo de autoritarismo malévolo, se tornando, inclusive, uma forma de xingamento, como o é agora.

Assim, dificilmente Trump teria espaço para implementar um programa fascista, pois não teria, obviamente, o apoio dos democratas e, muito menos, dos próprios republicanos. Não há lastro político para isso. A perspectiva política atual não o permite.

Segundo, as propostas de campanha de Donald Trump, principalmente no campo econômico, são liberais o bastante para afastar qualquer semelhança com o New Deal. É que, diferente da simbiose estatal-corporativista do New Deal, Trump promete mais liberdade econômica interna e rebaixamento da intervenção estatal no mercado, inclusive com diminuição de impostos. Enquanto Rossevelt colocou o Estado como a maior empresa americana, o novo presidente promete tirar o governo, o máximo possível, do mercado. Rossevelt quis criar empregos por meio das obras públicas e do dirigismo econômico, Trump fala em deixar as empresas moverem o mercado livremente.

Diante disso, apesar das aparências, não me parece que há porque se preocupar demais com uma guinada fascista no governo de Donald Trump. Na verdade, se ele cumprir suas promessas de campanha, a semelhança com o proto-fascismo rooseveltiano não passará de uma semelhança estética e não fará mal nenhum à sociedade americana.