A aparente proposta apresentada pelo novo presidente americano, de conduzir o país à semelhança de uma empresa nas negociações comerciais, por incrível que possa parecer, é uma novidade. Tão novo, que mesmo os liberais, conhecidos por sua afeição pela liberdade de mercado, não têm encontrado as categorias onde possam encaixar essa modalidade de condução do país.
Em seu artigo no Institulo Liberal, replicado no blog do Rodrigo Constantino, João Luiz Mauad coloca em dúvida se essa forma de gerir a coisa pública realmente funcionaria. E suas objeções surgem do fato de que, em síntese “nem tudo o que é rentável tem valor social e vice-versa”.
Ocorre que, apesar das razões relevantes levantadas no texto, não há referências históricas para sabermos se essa forma de gerenciamento dos negócios públicos realmente funcionaria. O que conhecemos até aqui foi, na melhor das hipóteses, governos que tentaram se afastar do mercado, deixando-o livre para auto-regular-se.
No entanto, hoje em dia fazer isso é simplesmente impossível, por causa de algo chamado mercado global. Atualmente, há uma infinidade de pactos, regulações e acordos bilaterais e multilaterais entre governos que servem para definir as regras do comércio entre as empresas das nações envolvidas. Assim, não é possível mais para um governo simplesmente decidir se afastar do jogo do mercado, porque este jogo, no âmbito internacional, depende completamente de sua posição.
E não houve na história dos acordos comerciais internacionais país algum que entrou neles com a perspectiva semelhante de uma empresa comercial. Há os protecionistas, que, na verdade, não negociam, mas impõem, quando podem, suas exigências e os liberais, que entram nas rodas de negociações com a mentalidade da coisa pública, do bem comum, só que em escala mundial.
Um governo que simplesmente entre para ganhar, de maneira que consiga extrair os melhores benefícios dos acordos sem, com isso, perder mercado, nem desagradar consumidores internos e externos, nunca se viu.
Até aqui quem negociou tudo isso foram políticos, homens públicos, que pensam antes mesmo das vantagens comerciais, na imagem que o negócio transmitirá para cidadãos e eleitores. Olhando para o passado, não se vê governante que tenha entrado no jogo comercial global explicitamente para ganhar. E isso assusta! Porque os analistas estão acostumados com os homens públicos, que jamais ousariam fazer isso, sob o risco de ter suas imagens públicas arranhadas.
De qualquer forma, uma coisa é certa: o modo como as rodadas de negociações comerciais são feitas pelo mundo têm privilegiado principalmente os países mais pobres, e mais ainda aqueles que se aproveitam para ganhar, explorando seus próprio povo.
As nações mais ricas têm perdido nessa competição. Suas exigências burocráticas internas não lhes permite concorrer nesse mercado em igualdade de condições, acabando sufocados por suas própria estrutura. O resultado disso é a fuga de grandes empresas e, por consequência, de riqueza, para aqueles países que oferecem mais vantagens econômicas para elas.
Diferente de Mauad, porém, não sei se gerenciar o país como uma empresa é algo impossível. Teoricamente, não vejo empecilhos para isso. Na prática, como não tenho referências históricas com as quais possa comparar, me resta esperar para ver o resultado.
O que eu sei é que a visão do bem comum, apesar de todas as promessas de construção do paraíso terrestre, se tornou mais uma maldição do que um bem para o Ocidente.
Por que, então, não tentar de outra maneira?