O pensamento moderno caracteriza-se pela dissonância entre o discurso e a experiência. Boa parte das ideias em circulação são apenas ideias e não refletem o que é vivenciado pelas pessoas.

São divagações tão desapegadas da realidade que nem mesmo seus autores podem sustentá-las em suas vidas práticas. Nunca vi um cético que não tivesse certezas, nem um determinista que não fizesse planos; os subjetivistas não se lançam de janelas, nem os idealistas deixam de correr quando se deparam com um cão raivoso; conheci poucos socialistas que abrissem mão de sua fortuna, também nunca vi calvinistas que não pregassem.

O que acontece é que todo esse pessoal abafa o senso comum em favor de sua razão própria, ainda que esta razão pareça racional apenas quando se esquece de que existe vida além dela. Para essa gente, entre o que eu vejo, sinto, percebo e experimento e minhas divagações aparentemente lógicas, eu deveria me aliar primeiramente a estas.

É por isso que há tantas ideias respeitosas e, ao mesmo tempo, contraditórias. Quando a experiência ingênua é desprezada, tudo pode ser dito e tudo deve ser aceito. Não importa o que você vê, importa o que eu penso. Não vale o que todo mundo sabe, mas o que alguns iluminados dizem.

Esse abafamento do senso comum é o que caracteriza boa parte das filosofias que circulam por aí e fazem a cabeça da intelligentsia. E desta descem como veneno escorrido para a vida das pessoas comuns, afetando-nas de alguma maneira, ainda que elas não as absorvam inteiramente e sequer entendam o que está acontecendo.