Eu nunca fiz terapia. Na verdade, nunca me senti necessitado dela. Não que eu seja uma pessoa absolutamente equilibrada e totalmente bem resolvida, mas, do meu próprio jeito, sempre encontrei meios de vencer as tendências depressivas da alma.

E, algumas vezes, essas tendências surgiram com bastante força. Mas, apesar de ter um temperamento que, em parte, é melancólico, tenho consciência que não foi por ele que, de vez em quando, surgiram os impulsos negativos. De fato, eles surgiram, normalmente, como fruto dos desafios da vida, das frustrações e das dificuldades.

Sendo assim, sempre cuidei de me atentar para quando os primeiros sinais de melancolia começassem a aparecer. Aquela falta de vigor, a energia que não vem, o desânimo diante dos desafios da vida; quando essas coisas surgem, em mim, por mais de dois dias seguidos, desperto o alerta, com o intuito de não permitir que esses sentimentos evoluam para algo mais grave, como uma depressão, por exemplo.

E para impedir isso, recorro a alguns métodos que sempre funcionam muito bem comigo. O primeiro deles é a própria consciência da minha fragilidade. Saber que, apesar de nunca ter sofrido com a depressão, eu não estou absolutamente livre dela, ajuda-me a precaver-me. Aliás, esta é uma das causas de muitas pessoas entrarem em estado depressivo: por nunca o terem experimentado, acreditam que não estão a ele sujeitos. Assim, aos primeiros sinais de melancolia, tomo a precaução de buscar formas de superá-la.

No entanto, entre os vários meios que utilizo para vencer o perigo, o mais eficaz, para mim, sempre fora a escrita. Escrever meus sentimentos, mas não apenas eles, e, sim, despejar nas letras meus pensamentos e raciocínios me ajudam a mitigar a depressão que, às vezes, começa a querer instalar-se.

Isso porque um fator que, mesmo que não seja a causa imediata, colabora para o aprofundamento do estado depressivo é o raciocínio circular que o doente começa a desenvolver. Quando se instala, o enfermo já não consegue mais encontrar alternativas à insistência da negatividade nos pensamentos. Por mais que queira, sua razão, teimosamente, lança-o em uma repetição incansável de sugestões deprimentes.

Ao escrever, porém, por mais que o início do exercício sempre demande um certo esforço, pois a cabeça e o corpo, nos momentos de pré-depressão, parece que exigem a alienação de tudo o mais, sinto como se as paredes que se levantam para me manter preso em um cubículo de raciocínios negativos e circulares comecem a ruir. E conforme mais eu escrevo, mais ar eu sinto que respiro, até chegar ao ponto que aquilo que era um estado de sufocamento se torna em sensação de libertação.

Expor pensamentos por meio da escrita exige do escritor ir além dos raciocínios que o cercam. Escrever é abrir horizontes, é forçar a si mesmo desbravar matas cerradas, que precisam ser transpostas com o uso de golpes insistentes contra aquilo que se põe no caminho. Isso, obviamente, faz com que ele seja forçado a lançar-se fora da obsessão negativa que o cerca.

Além disso, escrever, principalmente para leitores, é um ato de amor. Quem escreve para ser lido está, da maneira mais altruísticamente possível, compartilhando conteúdos que pertencem apenas a ele mesmo. Isso, sem dúvida, é um eficiente modo de vencer o ensimesmamento típico do estado depressivo. A depressão causa, naquele a quem acomete, um círculo vicioso de pensamentos onde apenas ele mesmo importa, apenas sua situação presente é considerada. Não há interesse, nem energia, para cuidar de nada mais, nem se preocupar com ninguém mais. O ato de escrever, portanto, me parece muito eficiente para vencer esse problema. Ao doar aquilo que está em mim, a fim de que outros leiam, dou um passo decisivo para sair daquele estado de pensamento egoísta. Como dizia Chesterton, ao pregar (no meu caso, por meio da escrita), dou a primeira prova de generosidade e, por ela, começo a deixar para trás aquilo que caracteriza os depressivos: a introversão obsessiva.

É por isso que o ato de escrever, para mim, é tão importante. Eu sei que ele vale mais do que um exercício intelectual. Na verdade, ele é o antídoto contra o egoísmo e obtusidade típicos do estado depressivo. Ao compartilhar meus pensamentos, experimento a caridade, que é inafastável da pregação que todo o escritor realiza. Ao colocar à disposição dos outros aquilo que existe apenas em mim, deixo de ser apenas eu no mundo e passo a ter com as pessoas algo em comum. Diante disso, não há depressão que resista.