De todas as minhas atividades, aquela que mais me define é a de estudante. Se um dia eu parar de estudar, é porque enlouqueci ou morri mesmo.

Eu digo isso porque conheço gente que acha que não precisa estudar mais; que tem um momento da vida que importa fazer, conquistar. Que os estudos se encaixam dentro de uma época, principalmente quando se é jovem. Eles seriam, então, parte de um período preparatório, mas dispensável no momento que o que importa são as realizações.

Então, seus estudos cessam-se. Na melhor das hipóteses, diminuem drasticamente. E,na mesma proporção que se envaidecem por suas conquistas, emburrecem-se. Quem já se deparou com empresários bem-sucedidos, mas ignorantes e com obtusos que alcançaram notoriedade sabe exatamente do que eu estou falando.

É preciso entender que nós, seres humanos, não somos – como nada na natureza – estáticos. Das células que compõem o nosso corpo aos conteúdos da nossa mente, estamos em constante movimento. Não temos assim o privilégio da manutenção. Isso quer dizer que se não evoluímos, necessariamente corrompemo-nos; se não crescemos, diminuímos.

A vida intelectual – que é espiritual, de toda maneira – não é diferente. Se paramos de adquirir conhecimento, isso não significa que nos manteremos com o mesmo nível de inteligência de antes. Pelo contrário, a inteligência que não é alimentada definha-se.

Às vezes, pensamos em nossa mente como um repositório de dados que, uma vez colocados ali, estarão para sempre disponíveis para serem acessados. No entanto, o processo é bem mais complicado. Há todo um dinamismo que envolve memória, conexões, raciocínio, simbolizações, referências e associações que torna incrivelmente complexo o processo mental. Sendo assim, ela precisa ser exercitada e alimentada constantemente. Pare de fazer isso e gradativamente sua mente irá perder suas capacidades, e mesmo aquilo que se sabe começa a ser perdido ou, pelo menos, vai ficando nebuloso.

Fora isso, existe o fato de que o conteúdo de informações disponível é muito mais abrangente do que qualquer mente individual consegue abarcar. Quando alguém abdica de continuar estudando, portanto, está abrindo mão da possibilídade de adquirir novos conhecimentos – que sempre existirão além daquilo que a pessoa já sabe. Isso pode representar uma mera resignação, uma simples desistência de conhecer mais. Mas pode ser algo bem pior: a ilusão de que o que conhece abarca quase tudo. E, neste caso, estamos diante da verdadeira estupidez, que é a ignorância em relação aquilo que não se sabe.

A verdade é que permanecer estudando não significa o adiamento de uma vida produtiva, nem uma confissão de despreparo – como algumas pessoas entendem – mas o reconhecimento que, se quisermos continuar evoluindo, precisamos manter alimentando nosso espírito. Como disse o químico francês, Michel Chevreul: “O homem deve considerar-se um estudante por toda a vida, uma vez que deve procurar, toda a vida, tornar-se mais capacitado e melhor”.

Ser um eterno estudante é reconhecer a essência da nossa natureza, a saber, algo dinâmico que precisa alimentar-se para continuar evoluindo.

Por essa razão, repito: de tudo o que sou, de tudo o que faço, nada me define melhor do que ser um estudante. Por isso, tenho certeza que morrerei assim: estudando.