O tédio é o substrato do cotidiano. Portanto, o que diferencia as pessoas é a forma que cada uma escolhe para livrar-se dele. Mesmo os aventureiros sentem algum vazio e, talvez, o sintam mais e, por isso mesmo, buscam formas mais extremas de preenchê-lo.
Um padre do deserto dizia que a tristeza não tem morada. Por isso, geralmente, esses que vivem como moscas, sem parada, de um lado para o outro, sempre em busca de uma nova experiência, são os que mais sofrem com esse buraco no meio da alma.
A verdade é que sentir-se preso a uma vida entediante é uma experiência universal. A jornada de quase todo mundo está longe de ser uma história de ação, parecendo mais um roteiro de filme cult francês.
O que fazer, então, para escapar dessa pasmaceira? A maioria das pessoas faz isso da forma mais óbvia: movimentando-se. É por isso que as academias, os entretenimentos, os jogos, as viagens de lazer e as reuniões sociais são as atividades preferidas.
Alguns inventam projetos, metem a cara no trabalho, outros se lançam na política, outros ainda engajam-se em movimentos sociais. Mas há ainda aqueles que se afundam nas drogas, nos prazeres extremos e nos riscos alucinantes. Todos, enfim, tentando escapar do tédio.
Mesmo eu, sentado em minha escrivaninha, lendo, estudando e escrevendo, parecendo inteiramente satisfeito, sou profundamento afetado por ele. Quem me vê em silêncio, quase imóvel, pode concluir que estou em paz, realizado, protegido dos males da melancolia. Só não sabe que, como qualquer um, o aborrecimento me persegue.
Dentro de mim não há a tranquilidade do monge nem o equilíbrio do guru. Não fico tranquilo na rotina e sinto constantemente que preciso preencher a lacuna na minha alma. Sigo ininterruptamente incomodado, meu espírito dificilmente está estável e dentro de mim espreita uma constante ausência de sentido.
É por isso mesmo que eu leio e escrevo tanto. No fundo, toda minha dedicação às palavras é também uma forma de evasão. Ler e escrever é uma maneira, muitas vezes extrema, de evitar o enfastiamento. No fundo, ser um escritor é o jeito que eu encontrei de não morrer de tédio.
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