Os revoltados já não causam mais espanto. Podem sair às ruas com seus peitos ao vento, com seus cabelos coloridos, suas roupas rasgadas e vociferando palavras raivosas de ordem que, ainda assim, já não assustam mais ninguém.

Quando nos deparamos com esses manifestantes mijando nas calçadas, quebrando vidraças e simulando atos sexuais com objetos religiosos, por mais que ainda tenhamos desprezo por tais cenas, elas não conseguem mais nos chocar.

O que aconteceu é que, depois de tantos anos dessas pessoas despejando sobre nós suas esquisitices, suas provocações bizarras, seus apelos ao grotesco e seu uso do imundo para provocar nojo, acabamos todos dessensibilizados. Mesmo para o pai de família, para o trabalhador, para a dona-de-casa e até para o crente nada mais parece estranho, nada mais é absurdo.

Isso porque tudo aquilo que antes servia para causar escândalo simplesmente tornou-se lugar-comum. Esses rebeldes fizeram tanto para apresentar ao mundo uma versão grotesca da vida, que o grotesco tornou-se cotidiano. Dessa forma, o máximo que eles conseguem provocar hoje nas pessoas é desprezo – e aquela sensação de que tratam-se de meros coitados, clamando desesperadamente por atenção.

Além disso, eles não se deram conta de uma outra realidade: a de que a própria vida cotidiana passou a ser tão terrível que tentar torná-la ainda mais feia é simplesmente impossível. Pessoas que vivem na loucura do mundo moderno tendem a não se espantar com mais nada. O dia-a-dia anda tão estranho que, para as pessoas, um amontoado de gente esquisita fazendo obscenidades à vista de todos não passa de um fato inusitado, porém sem maior importância.

Na verdade, o mundo anda tão insano que já começa a haver um desejo de retorno às coisas mais simples, como o belo, o bem, e à verdade. Estamos tão saturados das vilezas que já nos chama mais atenção homens rezando, mães abandonando seus empregos para ficar com seus filhos e jovens pensando em se casar do que militantes fazendo arruaça no meio da rua.

O fato é que os rebeldes perderam sua narrativa e seu instrumento – que estavam totalmente baseados no escândalo. E agora que seus métodos tornaram-se inócuos, tudo o que lhes restou foi uma ideologia oca, escondida por detrás de uma aparência grotesca.