Quando eu era jovem, nos tempos que não havia a chance de estar o tempo inteiro em contato com outras pessoas, precisávamos aprender a ter as nossas próprias diversões, os nossos próprios passatempos; precisávamos descobrir coisas que pudéssemos curtir a sós, sem esperar que os outros participassem disso.

Eu escrevia poesias que nunca ninguém leu, imprimi jornalecos que sonhava publicar em maior escala, mas que nunca saiu da matriz original, fiz músicas que só eu cantei e escrevi textos que jamais foram testemunhados por leitor algum.

Éramos forçados a ter vida própria e a desenvolver uma capacidade de ficar sozinhos. Quem tinha maiores dificuldades para isso precisava dar-se ao trabalho de sair, de buscar companhia fora de casa. No entanto, em geral, todo mundo era forçado, em alguma medida, a viver por si mesmo.

Hoje, essa conexão total, proporcionado pelas tecnologias, gera um certo tipo de dependência em relação aos outros. Parece que ninguém mais consegue fazer ou pensar em nada sem sentir a imperiosa necessidade de compartilhar isso. Nada mais parece ser uma atividade meramente interior, individual, apenas nossa.

Esse tipo de vida totalmente compartilhável, acredito eu, vai tornando as pessoas superficiais. Elas vão perdendo a capacidade de explorar o próprio interior, de perscrutar seus motivos mais internos, aqueles que só se revelam no silêncio profundo do próprio ser, na ausência de testemunhas e na completa falta de expectativas em relação ao pensamento alheio.

Com a possibilidade de contato constante, de feedback ininterrupto, as pessoas vão perdendo a motivação e a coragem de viverem consigo mesmas. Como o mundo está sempre disponível, sempre de ouvidos aparentemente atentos, o recolhimento já não é mais uma opção.

O que me parece é que estes tempos de hiperconectividade vai fazer com que a geração que neles vive seja a mais comunicativa de todos os tempos, mas também a mais superficial, a que menos entende a si mesma e às suas próprias motivações. E nós, de gerações anteriores, corremos o risco de sermos conduzidos para o mesmo mal.