Tem escritor que tenta escrever do jeito que o leitor fala. Imagina que, dessa maneira, conquistará o seu respeito. Ele pensa: “Se eu me expressar de um jeito bem popular, vou gerar identificação em quem me lê e fazer com que goste de mim”. Escolhe as palavras mais simples, as construções mais banais, o fraseado mais pobre – tudo para parecer uma pessoa legal. Não eleva o leitor; rebaixa-se até ele.

Esforça-se por tentar escrever da forma mais aproximada possível da linguagem usada no cotidiano. Em meus passeios pelos blogs e redes sociais, e até mesmo por alguns livros, constantemente me deparo com textos que parecem transcrições de conversas, construídas da maneira como as pessoas falam em seu dia a dia. Fica evidente a tentativa do escritor de parecer “gente comum”.

Mas o escritor, em seu ofício, não é uma pessoa comum, e sua expressão não é ordinária. Como diz Stephen King: “escrita é pensamento refinado”.

O escritor pode até estar buscando uma aproximação, pode até querer mostrar-se como um igual, mas, no fundo, ao rebaixar conscientemente o nível de sua escrita, acaba desrespeitando seu leitor. Ao agir de forma condescendente, só para agradá-lo, parece praticar um elitismo às avessas, de quem pressupõe que o leitor é um tosco, incapacitado de apreciar e entender um texto mais bem trabalhado.

Na verdade, os leitores costumam ser mais sensíveis do que boa parte dos escritores imaginam. Inclusive, são capazes de captar nuances de forma bastante perspicaz, sabendo discernir quando o texto é um convite à participação no refinamento da escrita ou um pedido de licença para assentar-se ao lado do mendigo intelectual que o escritor pressupõe estar diante do papel.

O leitor não quer apenas entender o texto; quer desfrutá-lo. Quer contemplá-lo como uma paisagem de Claude Lorrain; quer escutá-lo como um adágio de Bach. Por isso, a importância da beleza estética, da sonoridade agradável, do ritmo cadenciado, da harmonia das frases, da ordem dos parágrafos e do bom gosto. Engana-se quem acha que as pessoas querem o que elas já possuem. Não mesmo! Elas querem aquilo que lhes falta, aquilo que as eleva.

Por isso, o bom escritor não deve subestimar seus leitores, mas entregar para eles o melhor texto que puder. Não há nada de errado em tentar agradá-lo, mas não deve fazer isso como um bajulador, e sim como alguém que oferece uma experiência inesquecível.

No fim das contas, escrever bem é uma homenagem a quem lê. Por isso, considero o grande desafio do escritor o fazer-se compreensível e, ao mesmo tempo, interessante, sem, com isso, ter de recorrer ao virtuosismo rococó, nem precisar descer ao realismo extremo da linguagem vulgar. Se ele conseguir encontrar o ponto certo entre o pedantismo e a frivolidade, o efeito será o verdadeiro reconhecimento de quem percebe que o que lhe foi dado é obra de um esforço sincero de alguém que respeita seus leitores.