Entre as diversas músicas que louvam o mundo moderno, Imagine, de John Lennon, pode ser considerada um hino. Tanto que, quando querem celebrá-lo, sempre aparece alguém interpretando essa canção. E a comoção é evidente. Ao ouvi-la, as pessoas sentem-se imbuídas daquele sentimento nobre, que torna-as mais fraternas e tolerantes.

Os dois acordes iniciais, reconhecidos de imediato por uma geração embevecida na utopia do mundo perfeito, pacífico e harmonioso, soam como a esperança que não morre, de um dia não ver mais cenas de horror, como acontecidas nos atos de terrorismo, empreendidos contra uma Paris boêmia e mundana.

O que as pessoas, anestesiadas pela vontade de viver em um mundo onde possam desfrutar, sem serem incomodadas, de seus prazeres carnais, não vêem é que seu sonho é impossível. O que elas não querem entender é que a realidade é bem mais cruel e violenta e não são suas declarações de paz e suas músicas de amor que irão transformá-la.

Ainda mais canções como esta do ex-Beatle, que, o que não percebem os cidadão civilizados, contém, não a solução para o mundo em guerra, mas a fórmula para torná-lo inviável para a paz. Ao cantarolar sua letra, o esperançoso, ao invés de apresentar a cura, expõe a doença ocidental. É exatamente a crença na proposta de Lennon que está destruindo o nosso mundo. É a ideia que está contida em sua canção que está fragilizando o Ocidente. Ainda assim, ela continua sendo o hino dos estúpidos, dos idiotas que acham que podem alcançar a paz com bandeiras brancas e a liberdade com romantismo.

E o problema Ocidental se encontra, exatamente, em seu secularismo. Quanto mais ele nega seus fundamentos, que é essencialmente religioso, mais ele se afunda em uma vida sem sentido, preocupada somente com o agora, e, por isso, incapaz de lidar com os problemas que fogem de seu raio de compreensão. Negam o transcendente e, assim, não entendem mais nada. E o que Lennon faz é exatamente conclamar seus ouvintes a negarem qualquer esperança redentora, qualquer realidade superior. Nisto, ele, pensando estar salvando a humanidade, chafurda-a mais em seu próprio lamaçal, lançando-a mais fundo em seu abismo.

Seu erro está, essencialmente, no fato de não compreender a essência religiosa do ser humano. Não entende que a abolição da religião não fará nascer, como ele anseia, uma sociedade plenamente secular. Na verdade, ele ignora que o vazio religioso será imediatamente preenchido por alguma crença, seja ela qual for. Não é à toa que este mundo secularista, promovido por Imagine, não tem se tornado mais ateístico, mas, sim, mais místico, mais supersticioso. Não é o ateísmo que mais cresce, mas o ocultismo, o esoterismo e, obviamente, religiões como o islamismo. Quando a canção propõe esquecer as religiões, tendo, como alvo, obviamente, o cristianismo, ela promove não seu fim, mas sua substituição. E o que vem para o lugar dele é muito pior do que qualquer agnóstico sequer poderia imaginar. Querem a paz secular, terão a guerra das religiões violentas; querem a liberdade de pensamento, terão a imposição da fé à espada. Querem extinguir o cristianismo, que lhes permitiu serem ateus, e receberão o islamismo, que os forçarão voltar-se à Meca, cinco vezes por dia.

Na verdade, esses secularistas são incrivelmente cegos para a realidade que os cerca. Eles gritam por liberdade, mas promovem a escravidão, conclamam a paz, facilitando a guerra. É assim quando Lennon propõe, também, um mundo sem fronteiras, onde não existem mais países. De forma inocente, ele crê que isso, junto com o fim das religiões, trará a paz. O que ele não percebe, é que um mundo sem nações não significa um mundo sem governo. E se não há mais uma diversidade de poderes, haverá ao menos um grande poder. Portanto, o que está sendo promovido na canção é, nada menos, que um Governo Mundial.

E esta autoridade planetária só pode existir sendo o supra-sumo ditatorial. Apenas o totalitarismo é capaz de gerir o mundo inteiro. E seria uma ditadura plena, inescapável, senão pela morte. Haveria um único governo, determinando tudo o que desejasse, proibindo tudo o que quisesse, dentro de seus limites inexpugnáveis, que envolvem o globo inteiro. Imagine, portanto, ainda que sonhe com a paz, o que faz é conclamar à mais absoluta tirania. E as pessoas cantam alegremente essa bobagem, como se fossem os porta-vozes da liberdade, quando são apenas os megafones da escravidão.

Mas o delírio do homem contemporâneo não tem limites, especialmente porque ele insiste em ignorar a realidade, vivendo, muitas vezes, regado a boas doses de ácido, apenas em suas próprias fantasias. É assim quando ouvimos Lennon imaginando um mundo sem posses, o que ele acha que exterminaria a ganância e a fome. Sabemos, muito bem, que quem prometeu acabar com as posses, distribuiu a miséria, expropriando aquelas mesmas posses em favor de sua elite. Lennon sabia disso, mas preferia viver em sua fantasia. Ele só não saberia explicar como fazer para alimentar tanta gente, sem as grandes fábricas capitalistas, sem o lucro que as move. Talvez ele pensasse no mundo todo divididinho em pequenas propriedades, onde cada um plantaria sua alface, seu tomate e sua batata e viveria feliz, do escambo das verduras, na alegria de passar o dia inteiro entre as hortas, sem o luxo e o conforto dispensáveis, dos quais, aliás, Lennon fez uso abundantemente.

Mas o ex-Beatle insiste que tudo isso não é uma ilusão, não. Ele deixa claro que não é apenas um sonhador. Mas isso não é difícil de entender. Os loucos jamais se acham loucos. Eles realmente crêem que o que dizem é a mais absoluta verdade, que seus planos são perfeitamente exequíveis. Ainda que a realidade mostre, com todas as evidências possíveis, que estão errados, não abrem mão de suas razões. E como loucura e talento não são incompatíveis, muitas vezes homens como ele conseguem entregar suas insanidades em vestes bem bonitas, como é o caso dessa sua canção.

Só que Lennon era louco, apenas isso. E sua insanidade ficou evidentemente impressa nessa música, que fala de uma utopia, que nem seria tão perigosa se se mantivesse como uma impossibilidade consciente. Ocorre que os loucos não reconhecem impossibilidades, e pregam seus delírios como se fossem a proposta mais trivial. Mas tudo isso ainda não seria perigoso se fosse a doença de um artista, apenas. O problema é que, como um vírus, essa enfermidade se espalhou pelo Ocidente, causando delírios coletivos, tornando uma parcela da população insana o suficiente para acreditar que há alguma possibilidade na proposta estampada em sua letra.

Portanto, para não se contaminar, proponho eu: imagine-se vivendo no mundo de Imagine. Como diria o próprio cantor: isso não é tão difícil de fazer. Mas você precisa, se quiser ver a verdade, se libertar da mentalidade doentia que tomou conta do músico inglês, e, com a consciência da realidade, verificar que sua proposta não é capaz de conduzir ninguém a um lugar de paz e harmonia, mas, pelo contrário, escancararia as portas para a implantação da mais abjeta opressão, da mais sufocante tirania e do mais sanguinário terror.