O romance 1984, de George Orwell, é um marco, menos por suas virtudes literárias e bem mais por sua qualidade analítica e premonitória, que mostra principalmente a forma como os governos totalitários agem. E uma das atitudes do partido INGSOC era fazer de toda maneira com que o passado, como ele realmente ocorreu, fosse esquecido, para, em seu lugar, criar uma nova versão da história.
Na narrativa de Orwell acontecia assim: havia um grupo responsável por rodar o jornal oficial, que tinha como uma de suas funções acessar os arquivos, identificar todas as referências antigas aos personagens que deveriam ser esquecidos e substitui-las, jogando na fornalha a história real, colocando outra, conforme a vontade do governo, em seu lugar.
Orwell escreveu isso em 1948. E seu livro não foi apenas profético, mas descritivo, pois tais atitudes já aconteciam no seio do governo comunista soviético. A parcela premonitória residiu no fato de que a maior arma dos governos comunistas pelo mundo acabou sendo a alteração da percepção da realidade na mentalidade das pessoas.
Aqui no Brasil não poderia ser diferente, afinal foi exatamente as esquerdas quem dominaram a cena cultural nos últimos 50 anos. Sendo assim, tendo como sua prática ordinária a alteração do passado, não é à toa que quase tudo o que sabemos de nossa história política tem sido narrada conforme a versão adulterada que elas impuseram.
Nos deparamos, por exemplo, com uma narrativa que trata os guerrilheiros e terroristas esquerdistas dos anos 60 e 70 como heróis, como verdadeiros baluartes da liberdade, tornando, obviamente, os militares que governavam o país naquela época como verdadeiros criminosos, impiedosos e maus.
O que os comunistas fizeram, nesse tempo todo em que foram os únicos a contar a história do país, foi lançar na fornalha ardente toda a verdade que mostra o quanto eram eles os que mais queriam impor neste país uma ditadura, o quanto eram eles que colocaram armas nas mãos e tentaram impor o terror por aqui e o quanto eram eles que queriam solapar, de uma vez, a democracia. Substituíram tudo isso, com a ideia de que estavam defendendo a liberdade, que lutavam por uma nação democrática e que estavam sendo perseguidos e mortos por uma governo impiedoso, formado pelos militares.
E não é só em relação ao período militar que os esquerdistas cometem essa atrocidade histórica. A prática de adulteração dos fatos está tão impregnada em sua tática política, que mesmo as verdades que estão estampadas na cara de todo mundo são negadas, de forma contundente, por eles.
Na verdade, os comunistas são os mestres em bradar as coisas mais absurdas, as mentiras mais deslavadas, as falsidades mais cínicas, como se estivessem falando a coisa mais verdadeira do mundo. Para eles, não importa a realidade. O que vale é a justificação de seus atos. Tudo gira em torno de favorecer os seus planos.
Por isso, eles não são inimigos comuns. Por isso, não é possível derrotá-los pelos meios legais e ordinários. O que é a lógica para quem faz pouco caso da realidade? O que é a norma para quem só importa o objetivo de poder?
O problema é que boa parte de seus opositores ainda não se deu conta disso e continua a querer lutar contra eles apenas pelos meios mais inócuos, no caso, a lógica do discurso ou a retórica legal. São inocentes a ponto de achar que podem vencer inimigos desse tipo pelo convencimento ou pela argumentação jurídica.
O resultado disso é se verem envolvidos em batalhas sem fim, que pouco avançam, que pouco conseguem, simplesmente porque escolheram o caminho mais árduo e dificultoso. Com inimigos desse tipo, não basta apenas os meios ordinários. Contra criminosos que têm em suas mãos instrumentos poderosos, sejam bélicas ou as próprias instituições do Estado, muitas vezes é preciso ir além dos meandros jurídicos e agir com força, derrubando os bandidos pela força.
Os militares, em seu tempo, entenderam isso e foram, sim, implacáveis com os inimigos da nação. Enquanto deixaram todo o restante do país seguindo seu rumo tranquilamente e sem ser incomodado, permaneceram incansavelmente no encalço daqueles que sabiam estarem dispostos a tudo para transformar o Brasil em uma ditadura comunista.
Enquanto os atuais opositores dos esquerdistas não entenderem que a luta contra eles é algo fora da normalidade, que os meios ordinários não são plenamente eficazes para impedi-los de tornar a nação refém de sua ideologia, continuarão a dar murro em ponta de faca, a sofrer muito mais do que é necessário na vã tentativa de arrancar as garras deles do poder.
Os militares tinham consciência disso e, por isso, não deram chances para os bandidos.