Há mais de quatro séculos a intelectualidade ocidental vive em efusão, acreditando que a humanidade tem, a cada geração que passa, ficado mais evoluída. Leia os autores que se situam, principalmente, entre o final do século XIX e metade do século XX e constate como, em geral, realmente eles acreditavam que a sociedade iria superar suas mazelas pela inteligência e pela razão. Nem as duas guerras mundiais refrearam esse ímpeto, pois continuaram apostando suas fichas que quanto mais as pessoas abandonassem a superstição, que eles, invariavelmente, relacionavam com a religião, mais viveriam em paz e harmonia.
A realidade dos fatos, porém, discordou veemente de suas previsões. O que o mundo presenciou nos últimos três séculos foi muito mais violência do que jamais havia sido imaginado em qualquer época anterior. As conquistas da inteligência, que, na verdade, eram mais o resultado óbvio do acúmulo do conhecimento, foram diminuídas pela confusão mental que a negação obsessiva do dogma cristão causou. Apesar de muitas ideias terem sido criadas, cada uma delas era um universo desapegado da sabedoria universal, e por mais que contribuíssem em alguma coisa, no geral, contribuíram, principalmente, para o aumento da confusão e da justificação de muitas formas de tirania.
Não é por acaso que a guilhotina caiu à vontade, os canhões explodiram aos montes, as baionetas encheram de sangue os campos de batalha e a bomba nuclear fechou o ciclo do massacre em massa. Não é por acaso, também, que sociedades inteiras foram dizimas e cidadãos foram escravizados pelos próprios governos. Não esqueçamos, ainda, que o século XX foi o século dos genocídios.
Por isso, quando eu leio esses diversos autores, todos entusiasmados com as conquistas das Luzes e do tempo da Razão, não há como não pensar, em minha singela cabecinha, em meu pequeno e ignorado gabinete: como são inocentes esses intelectuais!