A estética do cara inteligente, com seu ar de superior e aparência de autodomínio, atrai algumas pessoas que encontram nela um estilo que lhes agrada. Afinal, parecer erudito é uma vantagem social. Esforçam-se, então, por, pelo menos, assemelharem-se a intelectuais, assumindo os trejeitos daqueles que parecem saber mais que os outros.

Nesse esforço, acabam até desenvolvendo habilidades cognitivas, como uma melhor capacidade de raciocínio, reflexão e compreensão das coisas. O problema é que, nesse caminho, a inteligência acaba sendo tratada como um fim. Buscam-na por ela mesma, como se ela fosse o tesouro a ser conquistado.

Sendo, então, a inteligência vista como um fim, só de tornarem-se um tanto mais eloquentes, mais ligeiros no pensamento, com um pouco mais de conhecimentos, começam a orgulhar-se de sua condição. Isso faz com que, paradoxalmente, a própria inteligência acabe se transformando num entrave. Afinal, desistem de ir além dela mesma, contentando-se em ser inteligentes, independentemente do que alcançam com o uso que fazem de suas inteligências.

O fato é que a inteligência pode servir de instrumento para o bem ou o para o mal, para elevar a compreensão da realidade ou para a prática engenhosa da maldade. Além disso, não são poucas as ideias estúpidas vindas de pessoas tidas por inteligentes. Por isso, a inteligência não pode ser um fim, mas um meio necessário para se alcançar aquilo que realmente importa.

A inteligência tem uma importância instrumental, sem dúvida. No entanto, o que vai determinar seu valor é o fim para o qual ela aponta.

A inteligência, na verdade, deve ser julgada pelos frutos que ajuda a cultivar, não por ela mesma. Uma boa ferramenta facilita o trabalho, mas se as sementes forem podres, nem a melhor enxada pode fazer da terra nascer algo bom.

Assim, orgulhar-se por ser inteligente é besteira. Se algum orgulho pode haver deve ser dos bens que a inteligência ajuda a conquistar.