É impressionante a necessidade que as pessoas têm de se sentir seguras. É inadmissível para elas assumir que as coisas estão fora da ordem, que o mundo no qual elas vivem não é tão acolhedor e confiável como gostariam.

Terminada mais uma eleição, quando o partido da situação saiu do pleito vitorioso, porém não fortalecido, os oposicionistas correram para legitimar o que seria uma escolha democrática do povo brasileiro, passando para a opinião pública, rapidamente, aquela sensação de normalidade tão desejada por todos.

No entanto, não se deve esquecer que esses mesmos oposicionistas, há menos de 3 dias, haviam acusado a candidata da situação, além de seus correligionários, de terem participado do maior caso de corrupção da história da República. Em resumo, acabaram de acusar seus concorrentes de criminosos!

Também reclamaram, de forma justa, durante toda a campanha, do uso sórdido, pelo PT, de acusações e tentativas de manchar a reputação de seus adversários, tornando o pleito eleitoral não apenas vil, mas até mesmo ilegítimo.

De repente, terminada a eleição, esses mesmos criminosos saem oficialmente vitoriosos e a oposição se apressa em declarar que reconhece sua vitória, sem sequer fazer menção àquelas mesmas acusações feitas há menos de 72 horas! E mesmo quem não votou no PT se diz satisfeito com o jogo democrático.

O que não percebem, porém, é que tudo isso é apenas uma ilusão que serve para aliviar a sensação de desconforto. A verdade é que não há democracia quando um dos lados a despreza. E o Partido dos Trabalhadores enxerga a democracia apenas como um instrumento para perpetuar seu poder. Quando não for mais necessário, a lançará fora sem qualquer escrúpulo.

No entanto, essa atitude da oposição e de boa parte das pessoas em tratar uma eleição com tantos indícios de fraudes e manipulações como um jogo democrático normal é feito, obviamente, em favor da democracia!

Porém, o conformismo quanto aos resultados eleitorais, baseado na defesa da democracia, ainda que uma das partes tenha “feito o diabo” para permanecer no poder, é o ápice da manipulação desse sistema de governo. Como eu venho falando já há algum tempo: não há totalitarismo mais estável do que aquele alcançado pelas vias democráticas.