Eu entendo as pessoas sentirem a pressão do mundo capitalista. As obrigações são muitas e das mais diversas. Às vezes dá mesmo vontade de jogar tudo para o alto.

Falam em lógica do mercado, mas ela, na verdade não existe. No mundo das compras, das trocas, do trabalho e dos negócios, nem sempre o melhor vence, nem sempre o mérito é reconhecido, nem sempre o esforço é devidamente recompensado e nem sempre os sacrifícios valem a pena.

Assim, diante da constatação de verdade tão cruel, sempre há aquelas pessoas que, sentindo-se oprimidas, culpam o sistema por seus fracassos, lançando sobre ele a responsabilidade por suas frustrações, e começam a propor meios de vida alternativos, maneiras de viver que se convencem ser um jeito melhor do que o da loucura do mercado.

Alguns, mais empolgados, chegam a propor uma mudança no próprio sistema – o que historicamente, além de mostrar-se inviável e pernicioso, demonstrou que, apesar de mudar as regras do jogo, não muda a essência do problema. Os países que experimentaram o comunismo, por exemplo constataram que o mundo deles pode ser tão ou mais opressor que o mundo capitalista, mas, certamente, bem menos confortável.

Outra saída proposta é o ideal de retorno do homem à natureza. Influenciados por uma visão romântica ou, simplesmente, induzidos por concepções ingênuas sobre a natureza, como a apresentada em diversos filmes e livros, acreditam que viver em harmonia com as plantas e os animais é o melhor que podem fazer para manter a própria paz.

O que essas pessoas não entendem, porém, é que a opressão e sentimento de injustiça, que elas percebem dentro de uma sociedade de mercado, não é uma característica dessa sociedade especificamente, mas da própria estrutura da realidade. A realidade é, em si mesma e em todas as suas manifestações, injusta e opressora.

Na natureza existe apenas uma lei: a do mais forte. Não existe harmonia, mas guerra. Na natureza, qualquer vacilo, qualquer descuido, pode ser fatal. Uma desatenção, e uma cobra lhe pica, um vacilo e um lobo lhe ataca, um erro e uma planta lhe envenena. Na natureza ninguém lhe defende, nem há instâncias de apelação. O que vale é a força pura e simples.

Existe algo mais opressor do que isso?

O que precisa ficar bem claro é que se há alguma justiça neste mundo; se há alguma harmonia; se existe alguma forma de equilíbrio, impedindo que os mais fortes simplesmente massacrem os mais fracos, isso dev-se à civilização. Foi ela quem criou os meios de dirimir a ação inclemente da natureza.

Não tem nada de natural na justiça, nem nada de natural na igualdade.

Se alguém quer viver em paz em meio à natureza, longe da civilização, o único jeito é equipar-se com o máximo de instrumentos retirados dessa mesma civilização: como uma boa lanterna, um bom rifle, uma boa comida e um bom abrigo. Sem isso, a chance de sobrevivência é mínima.