Segundo Aristóteles, o homem é um animal político. Disso, a conclusão que um bocado de gente tira é que tudo é política. Concebem o ‘politikon’ do filósofo corrompendo, da maneira mais rasa, seu sentido original, interpretando-o apenas como jogo de poder e, no pior dos casos, até como disputa partidária. Assim, para eles, se o homem é um animal político, isso significa que tudo o que ele faz tem um interesse político por trás e todos fatos estariam, portanto, contaminados por esses interesses.

Agora, imagine o quanto isso corrói a inteligência da pessoa. Ela já não consegue entender nada, porque não analisa nada segundo o que a coisa é, mas conforme as intenções políticas que acredita existirem por detrás dela. Nenhum fato, nem ato, nem idéias acabam tendo importância em si mesmos, mas são todos julgados conforme as contingências e supostas intenções políticas envolvidas.

A ciência, como método de observação das coisas pelo que elas são, deixa de existir. Tudo passa a ser visto, analisado e julgado conforme as intenções e implicações políticas que acreditam estarem envolvidos. A política acorrenta a ciência, encarcera-a e ainda manda-a calar a boca.

É por isso que Ortega y Gasset dizia que uma característica do homem-massa (o medíocre) é esse politicismo integral. Imbecil como é, não entende nada porque vê tudo pelo viés da política. Esse ser idiotizado não consegue enxergar nada fora da arena das disputas de poder e todo seu pensamento é moldado por isso.

Além disso, esta é uma atitude intelectualmente auto-castradora! Quem vê política em tudo, na verdade, acaba não entendendo nada; nem mesmo a própria política. Até porque há realidades que transcendem a política, outras que a absorvem e outras, ainda, que simplesmente a desprezam. Tentar entender a política, tendo a política como seu único universo de avaliação, é como tentar observar o movimento dos planetas usando um microscópio.

Isso não quer dizer que política não é importante. Pelo contrário, nossa vida é cercada por ela e quase tudo o que experimentamos coletivamente é determinada por suas disputas. No entanto, a questão aqui é a nossa capacidade de compreensão das coisas e o quanto ela fica comprometida por essa interpolação absoluta da política.

Por isso, quem quer entender alguma coisa, precisa antes tentar entender a essência das coisas. Independentemente das intenções políticas que possam haver ou das consequências políticas que se pode acarretar, não existe conhecimento verdadeiro se não houver a compreensão das coisas nelas mesmas. As essências são aquilo que se encontra além dos fatos imediatos e muito além das intenções. Ou seja, elas transcendem, em muito, a política.

Entenda uma coisa: nem tudo é política – nem a política é só política. Se você quiser ficar inteligente e realmente entender a realidade, vai precisar olhar além dela. Vai precisar sair do pequeno mundo que ela representa e olhar adiante, onde estão as realidades.