É impressionante como o cinema americano vive em torno de tentar, de alguma maneira, se redimir de seus próprios erros. Não apenas os dos envolvidos com a indústria cinematográfica, mas os erros que eles acreditam ser da própria sociedade americana. É só prestar um pouco de atenção para perceber que grande parte dos roteiros tratam de algum tipo de crítica ao estilo de vida americano e a busca de uma saída alternativa para isso.

Pode ser sobre o excesso de trabalho, a busca desenfreada por dinheiro, a obsessão por sucesso profissional, sobre a vida essencialmente urbana, os perigos do patriotismo exacerbado, a tentativa de encarnar o american way of life ou tantas outras características da forma de pensar e viver americanas; tudo isso é retratado nesses filmes como se fossem problemas a ser superados. Aquilo que representou, durante décadas, o jeito de ser de quem vive nos Estados Unidos é tratado, quase sempre, como uma falha a ser corrigida.

E, então, surgem as soluções, que podem vir pela escolha de uma vida bucólica, pelo desapego material, por optar um trabalho que se ame de verdade, por ser mais tolerante, por ser menos careta etc.

Em princípio, isso que Hollywood faz não é nenhuma novidade, mesmo se considerarmos a arte e a literatura que extrapolam os cinemas nos espaço e no tempo. O artista e, também, os pensadores sempre tiveram essa tendência de buscar uma alternativa ao mundo presente que, para eles, sempre lhes pareceu meio sem sentido.

No entanto, ver a bilionária indústria do cinema insistir tanto nesses temas, não tem como não me fazer pensar no tamanho da hipocrisia que isso me parece. É como o herdeiro milionário que passa a vida reclamando da riqueza, enquanto não abre mão de um dólar sequer de seu direito como herdeiro. O cinema americano faz isso, quando pragueja contra aquilo que o sustenta, reclama do que o financia, nega o que lhe dá vida.

Na verdade, a sociedade americana, apresentada em suas telas cinematográficas, parece se envergonhar de sua própria prosperidade, parece temer seu poderio, parece que insiste em desculpar-se por conquistar mais do que a grande maioria dos outros países. O Estados Unidos retratados por seus roteiristas e diretores de cinema são formados por pessoas que alcançaram o que todas as nações ainda buscam, mas que, exatamente por isso, creem que precisam se retratar.

Os filmes americanos se tornaram uma forma da sociedade americana tentar expiar os pecados que acredita ter.