jair BolsonaroComo, no Brasil, a direita ainda é nascente e não chegou a estabelecer bem suas convicções e objetivos, até aqui ela se caracterizou principalmente pelo seu anti-esquerdismo, mais especificamente pelo seu anti-petismo. O partido de PT e Lula fez com que todos que não fossem a seu favor, de alguma maneira de unissem contra ele, dando a impressão que o bloco opositor era algo minimamente coeso.

Quando eu lia em autores conservadores estrangeiros, como Russell Kirk, uma crítica ferrenha aos liberais, chegando até a um certo desprezo em relação a eles, aquilo me parecia estranho e exagerado. A percepção do que se via aqui no Brasil era, sim, de certas diferenças entre os direitistas, mas que pareciam ser divergências marginais, que não afetavam a coesão do grupo.

Claro que além dos conservadores estrangeiros, aqui muitos já começavam a afirmar que essa tal união era uma mera ilusão, pois aqueles que estavam a frente dos procedimento anti-governamentais não defendiam ideias que poderiam ser chamadas de conservadoras, de maneira alguma. Mas, ainda assim, não parecia haver uma cisão mais profunda, mas meras divergências pontuais.

Foi a ascensão do deputado federal Jair Bolsonaro, aparecendo com índices de intenção de votos surpreendentes em pesquisas, sendo recebido como pop star em cidades por todo o Brasil e alcançando índices de popularidade incríveis nas redes sociais que acabou despertando, em muitos daqueles que pareciam estar ao lado dos conservadores brasileiros, um ódio comparável aos que nutrem os esquerdistas mais radicais.

Bolsonaro, ainda que involuntária e inconscientemente, conseguiu algo que nem mesmo o filósofo Olavo de Carvalho, o grande pensador brasileiro e analista que costuma, antes de todos os outros, entender o que está ocorrendo no país, trazer à luz algo que estava até aqui escondido, a saber, que a direita brasileira não é um bloco nem de longe monolítico, e que muitos que pareciam pelo menos respeitar o conservadorismo, são meros entusiastas da social-democracia, do globalismo e do fabianismo.

Parece que o deputado despertou nessa gente tal ojeriza, que todos seus preconceitos, ódio e medo vieram à tona e agora não conseguem mais esconder que os conservadores brasileiros, para eles, não passam de uns fanáticos extremistas, que devem ser postos de lado na vida política nacional.

Reinaldo Azevedo, Mario Sabino, Caio Blinder, Marco Antonio Villa e até Diogo Mainardi, além de tantos outros, estão deixando claro que sua oposição ao esquerdismo mais revolucionário não os coloca necessariamente na posição de direitistas, mas apenas os colocam como pessoas que até gostam da liberdade do livre-mercado, sem porém de preocupar demais com a agenda cultural esquerdista.

E não é só Jair Bolsonaro que está causando isso neles, mas a saída do Reino Unido da União Europeia, algo da agenda conservadora britânica, também deixou em polvorosa esses analistas políticos, mostrando ainda mais que conservadorismo realmente não é algo que lhes agrade.

Finalmente, então, as palavras de Kirk fazem pleno sentido para o conservador brasileiro. Agora ele pode entender, não apenas intelectualmente, mas pela experiência direta, seu menosprezo em relação aos liberais. Os conservadores estrangeiros, que lá fora vivenciam há mais tempo esse conflito com aqueles que até parecem aliados, mas que não passam de outro tipo de adversários políticos, com alguns pontos em comum, mas nada mais que isso, sabem que não podem confiar politicamente nessas pessoas que, aliás, não confiam nem um pouco em tipos como nós.