Nada convence mais do que a verdade. Esta parece uma frase óbvia, e até batida, mas é preciso ser repetida, principalmente em tempos quando se pensa que persuadir é o objetivo final de tudo.
Vivemos tempos mercadológicos. Tudo, hoje, virou produto. E, independentemente das questões valorativas em relação a isso, o fato é que, em épocas como esta, o que impera é a utilidade, o pragmatismo, o resultado. E o resultado é, nada menos, que a ação do outro em meu favor. O objetivo último de nossos dias é fazer com que os outros adquiram, comprem, aceitem, tomem, obtenham aquilo que temos a oferecer – seja um objeto, um negócio, um curso, uma ideia etc.
A persuasão tornou-se o objetivo. Os meios para isso irrelevantes. Se, no fim, o outro aceitar fazer o que eu estou lhe propondo, é isso que vale.
Agora, imagine essa mentalidade suportada por uma era pavloviana, que tem a firme convicção que o ser humano não é nada mais do que um animalzinho reativo, talvez apenas um pouco mais inteligente que os outros.
O resultado é todo mundo usando todo tipo de artimanhas persuasivas, principalmente aquelas que provoquem o instinto do indivíduo para que ele aja de acordo com a vontade do manipulador.
E a verdade nisso tudo? A verdade é dispensável. No processo persuasivo, a verdade é a ação buscada e se o ouvinte age de acordo com o proposto, esta passa a ser a verdade entre as partes. Dentro da mentalidade dos nossos dias, isso basta.
A questão é que tratar os homens como meros bichinhos reativos é um erro. Somos mais que isso. Possuímos a razão e ela é o que temos de superior, a diferença específica que nos torna capazes de não apenas corroborar uma verdade, mas de explicá-la. É a razão que nos leva para além das meras impressões iniciais e nos permite ter alguma estabilidade em relação ao mundo que nos cerca.
O coração dos homens não se alcança diretamente, mas por meio de suas cabeças. E ainda que os sentimentos deem alguns sinais, é na razão a confirmação de que esses sinais estão corretos.
E se a razão confirma essa verdade é porque a verdade já estava lá.
Por isso, quando alguém fala a verdade, isso vai ao encontro das convicções mais profundas de cada ser humano. Ele pode até não entender isso, mas a verdade lhe toca. Ele pode até brigar contra isso, mas, lá no fundo, a verdade lhe incomoda.
Por isso, no fim das contas, não existe nada mais persuasivo do que a verdade.
Assim, quem quer alcançar a adesão de seus interlocutores, mais do que esforçar-se por lançar mão de técnicas de manipulação, deveria preocupar-se simplesmente em ser veraz.