A verdadeira fantasia e o verdadeiro romantismo são mais realistas do que o pretenso realismo que supõe compreender o mundo e, por este motivo, sente-se impelido a modificá-lo.

É que, na verdade, falta ao realista uma certa inocência infantil, que não pretende decifrar a realidade, mas aceita-a, escapando dela apenas quando quer.

O inocente não pretende alterar o mundo porque ele se resigna com o que a vida oferece. Sua relação com a realidade é direta e simples, mantendo seus olhos abertos e seus pés no chão.

As fábulas e as fantasias são o único mundo que o inocente permite-se manipular, porque ele sabe que sobre o outro – o real – não lhe cabe fazer isso.

É o realista que interpreta a realidade, usando sua inteligência como instância intermediária entre ele e o mundo. Por isso, muitas vezes, o realista não aceita as coisas como são, criando ilusões que tanto enganam os homens.

Como Chesterton disse, é o homem adulto que vive uma vida de faz de conta e fingimento, é ele que está com a cabeça nas nuvens.

Por esse motivo, somente a inocência pode servir de antídoto contra o artificialismo arrogante que se acha responsável por mudar tudo e sente-se capacitado para fazê-lo.