Quando são colocados em confronto os paradigmas católicos e reformados, muitos detalhes de suas respectivas cosmovisões são enfatizados. É possível encontrar diversas pequenas diferenças e oposições que serviriam para delimitar as diferenças fundamentais entre as duas vertentes cristãs.

No entanto, não é na visão eclesiástica, nas práticas religiosas, nas doutrinas de salvação, nem mesmo das formas de culto que se encontrará aquilo que é o fundamento da separação entre elas.

A questão crucial, de fato, encontra-se na forma como definem a natureza humana depois da Queda e como ela se relaciona com a graça divina.

No catolicismo, desenvolveu-se uma ideia mais positiva em relação à natureza humana. Ele não nega a Queda e suas consequências, mas defende a manutenção de um resquício de dignidade que permite que o ser humano possa movimentar-se, até certo ponto, em direção a Deus – pelo menos até o ponto em que a Graça precise vir ao seu auxílio.

Por outro lado, segundo a visão reformada, bem mais pessimista em relação aos efeitos da Queda, o homem teria se rebaixado a tal ponto que se lhe tornou impossível se dirigir, por suas próprias capacidades, em direção a Deus. A Queda teria manchado de tal forma sua natureza, que ele se tornou completamente impossibilitado de movimentos espirituais ascendentes. Dessa forma, só lhe resta que a Graça venha em seu auxílio, resgatando-o de sua total miserabilidade.

Em suma, entre as duas visões radicais da fé, em uma a Graça aguarda o movimento humano em sua direção, auxiliando-o no caminho final, enquanto na outra essa mesa Graça vai ao encontro do homem, resgatando-o de onde ele está, de onde ele não teria a mínima condição de sair.

Esses são os dois extremos na visão cristã sobre a natureza humana e sua relação com a graça divina. Sem esquecer que, entre eles, existem outras ideias que preferiram não se apegar a nenhuma das duas extremidades.