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Quem conhece os nossos passos?

Posted on 20/08/201209/06/2017 by Fabio Blanco
O Estado vai aumentando a extensão de seus tentáculos e, passo-a-passo, entra um pouco mais na vida privada de seus próprios cidadãos

Não são apenas a Apple e a Google que buscam incessantemente a posição de grandes invasores da privacidade alheia. Não poderia ficar de fora dessa briga a toda poderosa Microsoft. Esta, que já foi a maior empresa de tecnologia do mundo e hoje disputa para manter sua fatia (ainda gorda) do mercado, está investindo milhões de dólares em um sistema de monitoração pública, na cidade de Nova York (veja matéria do jornal Le Figaro).

Por esse sistema, o poder público terá acesso, em tempo real, aos dados relativos à movimentação de pessoas pela cidade. Também terá acesso aos dados mantidos gravados no sistema. Placas de carro, número de telefones celular, e até identificação biométrica seria possível. Tudo em nome de quê? Da segurança, evidentemente.

Com esse tipo de acesso e controle de dados, o governo terá em suas mãos informações que possibilitariam encontrar qualquer pessoa, em qualquer momento, na área coberta pelo monitoramento. Apesar disso, as autoridades afirmam que a privacidade não será violada, já que as câmeras de monitoramento apenas captariam imagens dos espaços públicos.

O interessante é que a cidade de Nova York, que outrora teve problemas sérios com violência, vive tempos de tranquilidade, com números baixíssimos de criminalidade. Isso, simplesmente, por causa de uma política de segurança duríssima, que não permite que criminosos, de qualquer tipo, tenham liberdade para agir em sua jurisdição.

Portanto, a que segurança os responsáveis pela criação desse sistema estão se referindo? Apenas pode ser a “sensação de segurança”, tão almejada pelos cidadãos. Ainda que os números de ações criminosas sejam baixos, ainda que as chances de uma pessoa ser vítima de um bandido sejam praticamente nulas, sempre é possível invocar a necessidade de segurança. Isso quer dizer que, nessa matéria, toda proposta que prometa fortalecer a sensação de ausência de perigo, é bem aceita.

E assim, o Estado vai aumentando a extensão de seus tentáculos e, passo-a-passo, entra um pouco mais na vida privada de seus próprios cidadãos. Ontem, todo lugar onde alguém estivesse, ainda que público, deveria a privacidade ser respeitada. Hoje, essa privacidade apenas existe, relativamente, dentro de casa. Amanhã, quem sabe o que restará como refúgio?

A ideia que se propaga é que não há privacidade em lugares públicos. Como se privacidade fosse apenas relativa aos atos mais íntimos. Os que assim pensam, esquecem que há a necessidade de mantermos em sigilo também os nossos caminhos, nossas rotinas, nossas preferências, nossos gostos, nossos desejos. Ora, se o governo tem acesso a tudo o que eu faço durante o dia, ainda que não possa ler meus pensamentos, pode, facilmente, deduzir todas aquelas coisas que fazem parte da minha intimidade. Se isso não o torna Deus, pelo menos o faz muito próximo de Satanás.

Até aqui, aceitávamos que apenas Deus teria o poder de tudo ver e tínhamos a plena consciência de que somente Dele não haveria nada que pudéssemos resguardar. Hoje, essa convicção começa a ser destruída, quando vemos que o Estado passa a também ter o poder, que até aqui tínhamos como sobrenatural, de saber tudo o que fazemos. Isso é a destruíção de um imaginário construído em milhares de anos.

O poder estatal tem se mostrado tão veemente que começa a apresentar obras que antes eram tidas como exclusividades divinas. Isso me lembra o texto bíblico que se refere à besta que “seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar…” (Apocalipse 13.14). Esta mesma besta é aquela que imporá uma marca sobre os homens “para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome” (Apocalipse 13.17). Quem, além do Estado, parece demonstrar tamanho poder?

Com a implantação de um sistema como esse, em relação ao qual não devemos nos iludir como algo que estará restrito apenas à cidade americana, já que a própria Microsoft afirma que seu plano é vendê-lo por todo o mundo, cabe-nos perguntar: de quem esperamos o socorro quando nos sentimos em perigo? A quem confiamos nossas vidas para que nos proteja? A quem devotamos grande parte de nosso tempo e recursos? A quem damos conta do que fazemos, compramos, vendemos e temos? Quem esperamos que nos eduque? E, também, quem sabemos que conhece todos os nossos passos? Obviamente, o Deus-Estado!

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