Pessoas de espírito rebelde gostam de referir-se a si mesmas como selvagens. Comparando-se ao animal que vive solto na natureza e que não é domesticado por ninguém, pensam suas vidas como a de leões que a ninguém se submetem.

No entanto, esta visão sobre o que é ser selvagem está profundamente equivocada. Na verdade, selvagem é a antítese de livre.

Até porque, apesar da aparência de autonomia, o selvagem não pode ser nada além daquilo que lhe foi determinado pela sua natureza. O selvagem está confinado a ela e dela nunca escapa. Isso porque o selvagem está inexoravelmente sujeito ao instinto e às inclinações e jamais pode superá-los.

Não há no selvagem nada daquele mínimo de razão que lhe permitiria agir de maneira diferente do que lhe foi imposto desde sempre. Sua tendência é seu cárcere, seu instinto sua prisão.

Portanto, aqueles que, encantados com os movimentos bestiais, tentam ser como feras, correndo para todo lado, agindo sem dar conta a ninguém e dando vazão indiscriminada a seus impulsos, saibam que o máximo que alcançarão é ser servos de suas partes mais inferiores, até o dia em que forem cativados pelo primeiro dono de circo que decidir domá-los.