Nem todos os livros de minha biblioteca foram lidos. É comum, depois de uma primeira tentativa, abandonar a leitura para retomá-la em um outro momento – às vezes, anos depois. Com muitos dos meus livros foi assim. Inclusive, há ainda aqueles que estão aguardando por esse resgate.

Certas leituras simplesmente não fluem e o problema nem sempre é a linguagem. Por mais esforço que se faça, mesmo entendendo o significado das palavras e o sentido das frases, falta algo para compreender exatamente a que o autor se refere. Há alguma coisa no universo do escritor que não é imediatamente abarcada pelo leitor. Enquanto isso não é resolvido, ler permanece um exercício inócuo.

Porém, quando parece que um livro está condenado a mofar na estante, por não ter sido bem entendido em uma primeira leitura, uma dica, um insight ou uma elucidação bastam para que aquela realidade a qual o escritor se refere torne-se compreensível, fazendo a obra, que parecia hermética, desnudar-se completamente.

A verdade é que, com exceção daqueles mal escritos, não existem livros difíceis em si mesmos. Mesmo quando parece haver um abismo entre a realidade imaginativa do escritor e o imaginário do leitor, uma simples ideia, de origem muitas vezes desconhecida, pode ser capaz de construir uma ponte, interligando-os.

Por isso, não entender um livro, de primeira, não é nenhum pecado. São dois universos – do escritor e do leitor – que se encontram e que, amiúde, precisam de tempo para entrar em harmonia.

De minha parte, eu aprendi a não me martirizar por não conseguir ler um livro e nem insisto muito quando percebo que minha conexão com o autor não acontece. Tenho coisas mais importantes para fazer do que gastar energia com uma leitura aborrecida e pouco proveitosa.