Livro bons são aqueles que correspondem às nossas expectativas; livros ótimos são aqueles que frustram-na, entregando algo muito melhor.

Quando eu li o livro ‘Retórica’, de Aristóteles, tive contato com os fundamentos dessa ciência. Para o estagirita, retórica é o discurso da persuasão. É o meio que o orador usa para, a partir das crenças e convicções do auditório, obter sua adesão. Seu livro é uma análise de como se dá esse tipo de discurso e quais são os meios para se obter o resultado pretendido. É uma exposição e uma explicação do processo retórico.

Por isso, ao decidir ler o livro quase homônimo de Chaim Perelman, eu esperava encontrar uma obra que seguisse a mesma linha do pensador grego. Um trabalho que fosse uma análise de discursos retóricos. E conhecendo outros estudos de Perelman, eu sabia que só poderia ser algo detalhado e profundo.

Qual não foi minha surpresa, porém, ao iniciar a leitura do ‘Retóricas’ e perceber que estava diante não apenas de um trabalho sobre o discurso retórico em si, mas de uma verdadeira filosofia da argumentação, acrescentada de uma profunda teoria do conhecimento. Perelman não é um pensador preguiçoso e suas análises cavoucam por entre os diversos aspectos que envolvem a apresentação de argumentos. Seu livro acabou sendo muito mais do que eu esperava; uma reflexão aguda sobre a natureza da argumentação e sobre sua possibilidade.

Quando um livro me oferece o que eu estava esperando, fico satisfeito. No entanto, saio o mesmo da leitura. Com algumas informações a mais, mas essencialmente o mesmo. Quando ele, porém, me mostra aquilo que eu não pensei ali encontrar, dando-me algo excelente, isso, sim, transforma-me.

O ‘Retóricas’ de Perelman fez isso comigo. Ao proporcionar-me acesso a pensamentos que eu não teria por meio de meus próprios esforços cognitivos, possibilitou-me um crescimento intelectual relevante dentro desse tema. Mostrou-me, definitivamente, que os estudos na área da argumentação superam, em muito, o simples desenvolvimento de técnicas para se obter o convencimento, mas envolvem a reflexão de suas próprias possibilidades epistemológicas e das condições psicológicas de seu exercício.