Quase toda a revolta contra Deus não passa de uma birra juvenil.

Da mesma maneira que o adolescente enxerga nos pais o reflexo de sua própria impossibilidade, pois eles são, ao mesmo tempo, seu limite e seu freio, o revoltado vê em Deus sua própria insignificância e pequeneza, o que para seu ego inseguro lhe é insuportável.

Quase todo ateísmo não é mais do que uma expressão obsessiva por mostrar-se independente, tentando deixar claro para todo mundo que não vive sob as asas da autoridade divina.

É um esforço infantil por apresentar-se como dono de si mesmo, como senhor de seu próprio destino, como alguém que não precisa dar contas a ninguém.

Sempre quando vejo um ateu, lembro-me de minha adolescência, quando ameaçava meus pais de que iria sair de casa, arrumando minha mochila velha e enchendo-a com minhas tralhas inúteis.

No fundo, eu sabia que, por mais que eu os ameaçasse, por mais que eu reclamasse de sua suposta opressão, por mais que eu dissesse que queria minha liberdade e viver minha própria vida, lá no fundo eu sabia que dependia deles para tudo e que toda minha demonstração de rebeldia era apenas uma forma de sentir-me senhor de mim mesmo. Restava, então, se trancar no quarto e praguejar.

Os ateus militantes que me desculpem, mas eu não consigo olhar para eles e deixar de ver apenas crianças rabugentas, que batem os pés, que choram, só porque não podem fazer todas as besteiras que têm vontade.