Os novos gurus aconselham que as pessoas busquem a paz interior, pratiquem mindfullness e aprendam a gozar do silêncio. Só esquecem que é exatamente do silêncio que elas fogem ao lançarem-se na algazarra cotidiana.
Isso porque o silêncio é incômodo, já que faz ressoar nelas seu próprio vazio interior, onde toda convicção pública e certeza propagada cai por terra. Um vazio que escancara a falsidade íntima e a fragilidade de quem já não consegue acreditar em mais nada, apenas em si mesmo.
Por isso, rendem-se, tentando lidar com essa vulnerabilidade, aos movimentos mundanos. Fazem isso, porém, não para se sentirem mais fortes, mas para calar o som do silêncio que ressoa a fraqueza dentro delas.
É verdade que não deixam de ser solitárias, só que não daqueles tipos tristes e melancólicos. Pelo contrário, são ativas, sempre cercadas por gente, sempre ocupadas. Vivem em meio a festas, encontros sociais, eventos, coletividades e associações. São dispostas e realizadoras.
Mas é bom não se enganar: essa ida em direção ao mundo trata-se apenas de uma forma de esquecerem quem realmente são.
É, de fato, uma fuga de si, só que uma fuga que termina numa negação de si. Como se acostumaram a misturar-se à multidão para esquecerem sua fragilidade, perderam sua autonomia. Deixaram de ter desejo próprio, escolha própria, vida própria. Tentaram escapar da solidão e, no fim, acabaram apenas escapando de si mesmas.
Tudo isso porque o indivíduo contemporâneo, na história, deu um mergulho vertiginoso para dentro de seu próprio interior, onde acabou agarrado à sua subjetividade, abraçado à sua verdade e submetido aos seus sentimentos e percepções.
Terminou, então, trancafiado em suas limitadas perspectivas, sufocado por sua limitada subjetividade, só conseguindo olhar o mundo exterior como que por um periscópio.
No fim, ainda que vivendo no mundo, acabou tendo apenas uma relação fugaz com ele. Descobriu, então, que não podia livrar-se do sentimento de vazio no seu interior. Descobriu que não deixou de ser um solitário, apesar de festivo.
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