Ninguém precisa ser isento, basta ser exato; não é preciso ser neutro, basta ser fiel. Toda pretensão de isentismo e neutralidade é ilusão ou má intenção mesmo.

Ainda que não concorde com a radicalização que os analistas do discurso fazem, de praticamente ignorarem os argumentos para dar atenção apenas às circunstâncias que o envolvem, eu não posso negar que toda manifestação carrega, atrás de si, algo mais do que os argumentos em si mesmos. Estão ali as crenças, as convicções e até os interesses de quem fala.

E não há nada de mal em que as coisas sejam assim. A sociedade desenvolve-se exatamente no confronto dessas visões diversas e muitas vezes antagônicas. Visões que se repelem, mas também que podem se completar.

Assumir que toda manifestação possui um universo de ideias, fatos e experiências por trás é apenas constatar uma obviedade.

Isso não significa, porém, que toda manifestação precisa ser, de tal modo, direcionada por essa conjuntura prévia, a ponto de que a fala em si, os argumentos apresentados e mesmo os fatos narrados não possam ser considerados por suas próprias razões. Não é porque toda fala carrega um conjunto de concepções prévias que ela não pode ser confiável por si mesma.

Quem discursa não precisa ser imparcial, só precisa ser honesto. Seu primeiro compromisso é não esconder suas intenções por trás de uma máscara de de neutralidade. Se busca algum resultado, se quer causar algum efeito, que seja claro quanto a isso.

O outro compromisso do argumentador é com a realidade em si. Independentemente de sua ideologia, de seus interesses, de sua fé, os fatos são os fatos. Inventá-los, sob o pretexto de visão pessoal, não deveria ser uma opção.

Obviamente, eu sou plenamente consciente das dificuldades que as nuances e ambiguidades da linguagem proporcionam. No entanto, conheço bem suas possibilidades para afirmar que é possível, sim, usá-la de maneira íntegra e confiável.