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Mentalidade autoritária

Existem pessoas que têm obsessão por controle. Ficam ouriçadas com a mera oportunidade de poder criar regras para impor sobre os outros. Não deixam ninguém em paz, nem permitem que decidam o que é melhor por si mesmos. Possuem compulsão regulatória, tornando a vida alheia um inferno.

No entanto, esse impulso normatizador não existe por acaso, mas tem fundamento filosófico. Marxistas e positivistas, a despeito de suas diferenças, concordam que só pode ser considerado racional aquilo que pode ser controlado. E como só pode ser controlado o que pode ser planejado, então, entendem que uma sociedade, para ser considerada racional, tem de ser totalmente dirigida.

Para marxistas e positivistas, um mundo livre, que se auto-regula de maneira espontânea, é um escândalo. Tomam-no por irracional. Acreditam, sinceramente, que uma civilização deixada à mercê de si mesma se autodestruirá. Por isso, a ideia de livre-mercado lhes é tão assustadora.

O fato é que um governo esquerdista ou positivista jamais permitirá que a sociedade siga seus próprios passos. Ele precisa direcioná-la, dirigi-la, planificá-la. Se não fizer isso é, em sua própria concepção, como se não a estivesse governando.

Até mesmo o simples indivíduo que possui mentalidade semelhante vai exigir que o governo intervenha sempre. Ele espera que as autoridades planejem, organizem e executem cada vez mais ações. Sua percepção é que um bom governo precisa estar o tempo todo regulamentando, dirigindo, direcionando tudo.

Obviamente, alguém que pense que o mundo precisa de cada vez mais regulamentações terá a tendência de desenvolver uma mentalidade autoritária. Ao entender que a racionalidade de uma sociedade depende de ordem e planejamento, quando tiver poder, certamente se tornará um déspota. Aliás, esse é o destino de todos os governos de esquerda – e dos positivistas também.

E como nossa cultura, hoje em dia, é forjada exatamente por essas duas ideologias, todo mundo se torna um autoritário em potencial. Todos só pensam em regulamentos, decretos, leis, ordens e portarias para melhorar a sociedade. Basta observar como, a cada problema que surge, não tem um cidadão que não espere que uma nova regra seja criada.

Só não percebem que o mundo que estão forjando pode até ser mais organizado, mas uma organização cada vez mais parecida com a disciplina de uma prisão.

Desprezo pelo povo

Autodeterminação dos povos, democracia, governo pelos cidadãos – todas expressões muito repetidas por todo tipo de políticos, mas que para a maioria deles não passa de ideias abstratas, que nada têm a ver com a realidade.

Isso fica claro em figuras como o governador de São Paulo, que indignado com as pessoas frequentando a praia, em um domingo de sol, esquece-se completamente que cumpre um mandato eletivo e se refere a elas como se estivesse falando de subalternos de suas empresas, achando que a obrigação delas é obedecê-lo indiscutivelmente.

Quando um governante refere-se aos próprios governados como gente irresponsável, insensível, quase sociopata, só porque decidiu passar um domingo de sol, com a família, na praia; quando ele afirma que, enquanto não ver toda a população, como gado, imunizada, vai manter seus direitos suspensos – que é exatamente o que acontece em uma quarentena, que impede as pessoas de trabalhar plenamente e exercer sua cidadania em sua integridade –– esse governante apenas demonstra o desprezo que sente pelo povo.

Para esse tipo de político, a população é incapaz de decidir o que é melhor para si mesma. Homens assim não conseguem olhar para a gente comum e ver pessoas que sabem analisar a realidade e definir o que vale e o que não vale a pena fazer. Políticos como ele acham que o povo é formado por gente estúpida, que precisa ser guiada, que não serve para mais nada além de arrecadar dinheiro para o Estado e cumprir as determinações das autoridades.

E que não me venha dizer que isso é justificável pelo zelo pela vida alheia. Este é o típico argumento despótico, sempre usado para impor as maiores restrições, inclusive para impetrar perseguições.

Não concordar com a decisão das pessoas de não mais se submeterem aos delírios de um governo e seguirem suas vidas, mesmo sem o completo solucionamento do problema sanitário, é até compreensível, mas achar que elas devem ser punidas por isso, é demonstração clara de uma personalidade autoritária.