Tag: Censura

Gatilhos Emocionais

Palavras machucam. A algumas pessoas, machucam mais. Em algumas delas, existem manifestações, chamadas de “gatilhos emocionais”, que despertam sensações ruins, pois trazem à tona más experiências do passado que estavam guardadas em seus inconscientes.

O fato é que qualquer pessoa está potencialmente sujeita aos maus sentimentos provocados pelos gatilhos emocionais. O problema surge quando esses mesmos sentimentos se transformam em arma de censura.

Por exemplo: hoje em dia, muitas crianças crescem sem a figura paterna. A referência ao pai pode ser um gatilho para elas. Qual, então, a solução que os experts do comportamento humano propõem? Deixar de falar dos pais, inclusive de comemorar o Dia dos Pais.

O problema é que esse é um buraco sem fundo e qualquer referência a qualquer coisa pode se tornar um gatilho, dependendo do trauma que a pessoa carrega. Ela pode ter sido mordida por um cachorro e falar desse animal pode lhe trazer péssimos sentimentos. O que fazer, então: proibir falar sobre os bichanos?

O fato é que quando qualquer coisa é censurável pelo simples fato de ser um potencial gatilho, o sentimento mais íntimo de cada pessoa acaba se tornando uma arma de coerção. Para impedir uma manifestação, basta sacar a carta do gatilho e pronto: o outro está cerceado no seu, até aqui, direito natural.

Quando o sentimento pessoal se torna instrumento de censura, o que há é a promoção do vitimismo. Sentir pena de si mesmo, ter-se como uma vítima das situações do passado, transforma-se numa arma de poder.

Se o vitimismo torna-se vantajoso, cada vez mais gente passa a fazer uso dele, o que faz dele uma cultura. Quando isso acontece, a sociedade, como um todo, enfraquece, pois ela é o reflexo dos seus cidadãos.

Por isso, se queremos uma sociedade forte, o que deve ser estimulado nas pessoas não é o vitimismo, através do oferecimento de direitos especiais para os traumas pessoais, mas a superação desses traumas, através do incentivo ao sucesso pessoal, seja material, físico ou espiritual.

Os gatilhos, de fato, devem ser anulados, todavia, não pela sua proibição, mas simplesmente fazendo deles ineficazes.

Censura e Inteligência

Quais os limites da liberdade de pensamento e de expressão? Minha convicção é de que eles devem ser estendidos ao máximo. Eu sei que, nisso, há riscos e perigos e, muitas vezes, abusos. Porém, aceitar que a liberdade precisa ser privilegiada significa mais do que proteger o direito do indivíduo, mas assegurar a possibilidade do desenvolvimento de sua inteligência.

Há aqueles que acreditam que a censura é necessária para que direitos alheios não sejam feridos. Com isso, defendem que certas palavras, expressões e ideias sejam suprimidas. Esperam, assim, que a proibição de sua veiculação as impeça de causar os males que lhes seriam próprios.

De certa forma, a censura sempre existiu e, em geral, ela nunca foi um problema para a inteligência. Historicamente, foram os poderes estabelecidos que a impuseram e aqueles que a sofreram souberem usar de criatividade e esperteza para driblá-la. Inclusive, foram em períodos de forte repressão à opinião que grandes artistas e intelectuais foram revelados.

O problema começa quando a censura deixa de ser governamental para ser social. Neste caso, forma-se uma rede de fiscalização que ultrapassa à burocracia oficial e passa a ser exercida pela própria população. Impõe-se, então, proibições que já não dependem de leis, nem de poderes. A própria sociedade, por meio de seus mecanismos super-eficientes de controle, cerceia o pensamento dos indivíduos.

As pessoas, então, intimidadas com pressão tão grande, começam a autocensurar-se, policiando-se a fim de não cometerem o erro de falar algo que possa ferir suscetibilidades alheias. Para isso, eliminam de suas manifestações, mas também de seu universo de consciência, toda uma gama de ideias que consideram agressivas. Ideias que, para elas, passam a ser vistas como pecados mortais, com os quais não se deve sequer flertar. Com isso, não apenas diminuem a possibilidade do que podem pensar, mas vivem temerosas de falarem ou pensarem algo que não deveriam.

Ao sucumbir ante às proibições, a inteligência para de se desenvolver. Isso é óbvio, já que, para tanto, ela necessita de liberdade, se não de expressão, ao menos de pensamento. Se, porém, ela não pode explorar todas as possibilidades, porque do universo mental foram eliminados diversos elementos, fica impossibilitada de progredir. A burrice torna-se o efeito imediato.

A verdade é que a inteligência, para aperfeiçoar-se, precisa sair do lugar-comum, arriscando-se em territórios inexplorados e perigosos. Desse jogo de tentativa e erro, de insinuações e provocações, de mergulhos constantes no desconhecido é que ela se alimenta. E nesse movimento a inteligência precisa ter a coragem de aproximar-se de pensamentos que podem ser socialmente reprováveis e que incomodam alguns tipos de pessoas.Todos os grandes artistas e pensadores foram pessoas que arriscaram ir além do senso comum, ousaram pensar o inusitado, tocaram em assuntos delicados, experimentaram raciocinar fora dos padrões, permitiram-se trabalhar com ideias perigosas e forçaram os limites estabelecidos. Gênios apenas o foram porque se negaram a ajustar sua imaginação aos moldes impostos pela sociedade.

Quando, porém, a inteligência restringe-se, proibindo a si mesma de ir além do que é socialmente permitido, perde sua elasticidade, atrofiando-se. Por isso, a censura social é tão perniciosa. Ela não apenas impede a manifestação do pensamento, mas estagna o raciocínio, murchando a criatividade, desanimando o conhecimento e sufocando qualquer tentativa de sua expansão.

Onde vence a censura, quem sucumbe é a lucidez.

Verdade Sequestrada

A censura, hoje em dia, é velada e, ao mesmo tempo, ampla. Houve épocas que o próprio Estado praticava-a. Porém, os termos eram mais bem definidos. Não havia a defesa de uma verdade absoluta, como se faz agora, mas de um regime. Era como se o governo dissesse claramente: “nós acreditamos que certas ideias são nocivas à sociedade porque representam uma ideologia que quer derrubar o sistema presente. Por isso, vamos proibir que se faça qualquer tipo de propaganda, explícita ou não, a favor dessa ideologia”. Os termos estavam postos e eram exatamente conhecidos. E por trás dela não havia a pretensão de uma verdade inegável, apenas a defesa de um regime político mesmo. Pode parecer uma censura menos justificável, mas certamente era menos hipócrita.

O que ocorre atualmente é diferente. Expressões, opiniões e ideias estão sendo previamente impedidas de circular. Quem se arrisca, está sujeito às sanções, como banimento dos veículos de comunicação, impedimento de faturamento e, em alguns casos, até uma conversinha com o delegado federal. Alguns, aqui no Brasil, acabaram inclusive presos.

Qual a diferença, porém, dos princípios que sustentam os censores da atualidade em relação aqueles que estavam ligados a determinados regimes políticos? A censura de agora é baseada na suposta defesa de verdades que se apresentam como indiscutíveis. Não se alega o combate contra uma ideologia nem a proteção de um sistema de governo, diz-se simplesmente que os censurados mentem. A defesa da verdade é o motivo da censura. Porém, que verdade é essa que não suporta a contradição?

Por mais incrível que pareça, os censores dizem defender a verdade científica, aquela mesma que só pode ser alcançada após intensos debates e que sequer se pretende no direito de pronunciar-se dessa maneira, pois faz parte da sua natureza estar sempre aberta para a apresentação de dados contraditórios.

Estamos, então, diante do pior tipo de absolutismo. A censura praticada tem sido pior até do que aquela baseada na religião, a qual, pelo menos, possuía claramente delineada a doutrina defendida. Além do que, era uma doutrina explicitamente defendida mesmo por aqueles que eram censurados. A censura era como que uma correção a um grupo que acreditava na mesma coisa que seus censuradores. O objetivo era evitar a cisão, a heresia.

No mundo de hoje, por tratar-se de um mundo plural, isso não tem mais nenhum sentido. Não existem mais crenças comuns, nem doutrinas universais que suportem o banimento de heréticos. Independentemente do quanto isso é positivo ou negativo, cada pessoa, teoricamente, tem o direito de acreditar no que bem entende, falar sobre o que bem entende e até divulgar essas suas convicções, sem que isso devesse lhe causar qualquer tipo de prejuízo.

No entanto, já não são mais doutrinas, nem teses, nem ideias que sustentam a censura, mas a simples defesa da verdade, a qual ninguém sabe quem a definiu e nem de onde surgiu. Simplesmente, uma dita verdade é lançada na cara de todo mundo que, mesmo sem ter qualquer relação com ela, é forçada a engoli-la.

Isso é bem estranho, pois como se pode falar de uma verdade imposta em uma sociedade que cultiva o pluralismo e o relativismo? Parece claro que isso tudo não passa de um pretexto para defesa de outros interesses muito mais mesquinhos.

O fato é que quando uma verdade está de antemão definida, a ponto de sequer poder levantar-se qualquer tipo de objeção contra ela, sob pena de sofrer as mais duras penas, significa que a sociedade alcançou um estágio de totalitarismo inimaginável até para as épocas de governos ditatoriais. Isso porque nestes, pelo menos, os motivos do censor eram evidentes, enquanto, agora, são ocultos.

Vivemos um período contraditório e perigoso. Enquanto parece que praticamente não existem mais ideologias, nem doutrinas que possam ser usadas para cercear a liberdade das pessoas, a criatividade humana foi mais longe e sequestrou a própria verdade para fazer isso. Por mais que seja uma verdade que ninguém sabe dizer por quem foi definida, ela está lá, firme e inabalável, ajudando a calar aqueles que dizem também querer revelá-la.

A verdade só se insinua onde a razão caminha livre. Essa que estão dizendo defender não pode ser a verdade, mas um simulacro, uma falsária que, mantendo a verdadeira encarcerada, toma seu lugar, porém, sem as sutilezas e complexidades da original, mas com rigidez, intransigência e brutalidade.

Editores da nação

A verdade está disponível a todos, porém, nunca toda a verdade. O que sabemos pode ser certo, mas certamente não envolve tudo sobre o que sabemos. Somos como as bacantes de Penteu, que na ânsia de tomá-lo por inteiro, destroçaram-no, ficando, cada uma, com um pedaço de seu corpo.

Podemos, sim, possuir a verdade, mas nunca integralmente. Isso porque a verdade é múltipla, cheia de nuances, tomada de detalhes e aberta a ser vista por perspectivas diferentes. Duas pessoas, se corretas sobre um mesmo objeto, jamais entrarão em conflito. Porém, é possível que o vejam por perspectivas diferentes. Mais ainda, pode ser que a perspectiva de uma seja incompreensível para a outra, porque o conhecimento, mesmo correto, é inevitavelmente parcial, havendo nele sempre aspectos não abarcados.

Ainda assim, há pessoas que confundem o conhecimento que possuem sobre alguma coisa com todo o conhecimento existente sobre ela. É dessa maneira que surgem os censores da sociedade – ditadores que pensam ser os guardiões da verdade, que têm o dever de impedir que a mentira se alastre. Como manifestou-se um ministro da suprema corte brasileira, acreditando ser, junto a seus pares, um tipo de editor da nação, formando com eles um verdadeiro Ministério da Verdade, nos moldes daquele imaginado por George Orwell, em seu 1984.

No entanto, um juiz, mesmo de um tribunal, jamais é o guardião da verdade. Ele é um guardião das leis. Porém, as leis são uma artificialidade, um simulacro da verdade. Leis são convenções sobre determinadas coisas, sobre delimitadas coisas. Um juiz guarda apenas essas coisas, no limite daquilo que está escrito somente. Determinar o que é verdade e o que é mentira, o que é certo e o que é errado, está muito além das atribuições de qualquer magistrado.

O pior é ver esses censuradores dizendo que fazem isso em defesa da democracia. Quando os militares aplicaram a censura (se bem que porcamente), assumiram o caráter ditatorial de seu governo; assumiam que havia uma verdade na qual eles se afiliavam e que estavam determinados a calar quem pensasse de maneira diferente, principalmente de maneira contrária a deles. Era uma confissão de que se tratava de um governo de exceção. No entanto, agora, aqueles que defendem aplicar a censura às vozes discordantes são hipócritas, pois dizem fazer isso em favor da liberdade. Nesse ponto, os militares eram bem mais honestos.

É preciso entender que a defesa da liberdade de expressão é o reconhecimento de que ninguém está apto a determinar se algo é uma completa mentira. Assim, é uma maneira de evitar injustiças. Por esse motivo, jamais devemos aceitar que alguém atue como o censor da sociedade, mesmo que concordemos com ele. Seja ele um youtuber ou um ministro do Supremo Tribunal Federal.

Uma censura cordial

As Guerras Mundiais, a Guerra Fria e a ameaça de holocausto nuclear condenaram o discurso político incisivo. Tornou-se pecado falar com firmeza e tratar o adversário como inimigo. Começou-se a exigir que todo orador buscasse o equilíbrio e a razoabilidade.

Em tese, as intenções pareciam boas. Contra o que C. Wright Mills chama de realismo excêntrico, principalmente dos conservadores, passou-se a exigir que a linguagem e expressão fossem adornadas com vestes de tolerância. Tendo como base a ideia de que cada um tem uma maneira própria de enxergar a vida, a linguagem dos novos tempos deveria superar a dualidade entre o certo e o errado, mas considerar as ideias alheias como alternativas plausíveis.

A Nova Retórica, de Chaim Perelman, tornou-se um dos estandartes dessa nova expressão. Sua ciência é uma verdadeira filosofia da concórdia, uma tentativa por criar uma ponte entre os espectros ideológicos.

O problema é que a vida real é sempre mais complicada do que as melhores boas vontades. Enquanto os conservadores passaram a moderar seu discurso, a fim de adequar-se às exigências dos novos tempos, os progressistas passaram a usar essa mesma forma de expressão, aparentemente cordial e tolerante, para calar seus adversários políticos. No fim das contas, a linguagem polida dos progressistas tornou-se como arma mortal escondida dentro de um buquê de flores.

O que era para ser uma maneira de aproximar os extremos censurou um lado e fortaleceu o outro.

Depois de três décadas dessa nova filosofia do discurso, o resultado é que os conservadores não podem mais se expressar. Se falam do seu jeito, tentando mostrar as coisas como são, são tachados de radicais; se amenizam seu discurso e procuram mostrar-se tolerantes, acabam absorvidos por seus adversários políticos, que assumiram essa forma de expressão aparentemente cordial como sua marca registrada.

Siga o dinheiro

O que motiva empresas privadas como Facebook, Globo e Folha de São Paulo a atuar constantemente contra os interesses de boa parte de seus consumidores diretos? Enquanto o jornal impresso tem vivido de fazer campanha descarada em favor de seus políticos preferidos e o canal de televisão não cansa de afrontar a moral do povo com o levantamento de bandeiras que deixam felizes apenas uma parcela muito pequena da população, a rede social entra com tudo na disputa política e, simplesmente, exclui páginas de pessoas que unicamente defendem ideias que têm o aval de milhões de pessoas.

Não esqueçam que, antes de tudo, essas são empresas privadas que sobrevivem de lucro. Quando vemos elas, contudo, tomando decisões que vão diametralmente para o lado oposto do pensamento de seus próprios clientes, só podemos concluir que só pode haver alguma fonte de renda que, para elas, é muito mais interessante do que o que podem obter diretamente de quem consome seus produtos. 

Só é possível concluir que há financiamento pesado e direto feito por entidades metacapitalistas e supranacionais. Está claro que tem gente colocando dinheiro grosso nessas empresas, de maneira que, para elas, valha a pena menosprezar os próprios consumidores em favor de ideias e bandeiras que firam esses mesmos consumidores frontalmente.

Para entender tudo isso, o conselho é: siga o dinheiro e você entenderá muita coisa.

Censura ou pressão

Quem não consegue diferenciar CENSURA, que é a proibição da livre expressão, a partir de uma autoridade legal, e PRESSÃO, movida por cidadãos comuns, em seu livre exercício de manifestação, contra uma mostra com mensagens degradantes e possivelmente criminosas, não sabe o que é a verdadeira liberdade ou finge que não, apenas para justificar suas imundícias.