Tag: Comportamento Social

Velho normal

Não existe novo normal. O ser humano não muda. Suas necessidades, impulsos e tendências permanecem os mesmos. Ele pode até ser obrigado a viver de certa maneira e pode até fingir aceitar isso, mas basta as proibições cessarem para o que é normal, de fato, vir à tona.

Se hoje estão usando máscaras, no dia que não for obrigatório, quase ninguém mais usará. Quanto às aglomerações, está todo mundo como cachorrinho acorrentado, esperando a hora de sair para passear. No dia que liberarem as festas, os shows, os bailes, o futebol, a multidão vai se acotovelar sem medo.

As pessoas têm um impulso por amontoar-se – isto é fato. Eu nunca entendi bem esse gosto por apertarem-se em bares e discotecas, onde mal se consegue conversar e o que predomina é aquele cheiro de suor misturado com cerveja. No entanto, as pessoas se sentem atraídas por ambientes assim, como se esses odores despertassem suas dopaminas.

Quanto ao trabalho remoto, as coisas só irão mudar se as empresas entenderem que isso é mais lucrativo. Se não for, esqueçam.

Além do mais, esse negócio de reunião virtual, festa virtual, sexo virtual – mesmo eu que sempre fui afeito à tecnologia acho uma grande chatice. Os instrumentos podem evoluir, podem aproximar-se da experiência real, mas nunca vão deixar de ser um simulacro, uma imitação.

Nós temos necessidade de realidade e nada pode substituir isso.

Portanto, quem fala em novo normal, simplesmente, não entende nada de seres humanos e, muito menos, do que é realmente normal.

Os papéis sociais e o indivíduo

É realmente impressionante como as pessoas se identificam com seus papéis sociais, se incomodando mais quando estes são criticados do que quando elas mesmas são atacadas. Basta, por exemplo, ouvirem algum comentário crítico em relação à Psicologia e os psicólogos se alvoroçam. Se falam algo do catolicismo, os católicos se incomodam. O mesmo acontece com libertários, protestantes, petistas, espíritas, maçons, corinthianos, frequentadores da associação de bairro ou qualquer outra pessoa pertencente a um grupo específico. As pessoas, na verdade, já não conseguem se ver como indivíduos e apenas se reconhecem como partes dos coletivos. Por isso, falar destes, aos quais pertencem, as agride. É como falar delas diretamente.

Como eu não estou nem aí para os papéis sociais que exerço, como advogado, professor, blogueiro, protestante ou seja lá mais o que for, não me incomodando, nem um pouco, quando esses tipos são criticados, me assusta essa defesa apaixonada que as pessoas fazem de suas profissões, de suas funções, de seus cargos, de seu grupo. Isso, para mim, representa, nada mais, que um grande vazio existencial. Só isso.

O papel social até pode refletir a identidade da pessoa, mas é incapaz de defini-la. Isso porque o indivíduo é e está muito além de qualquer função ou profissão. Qualquer atividade pode abarcar apenas uma parte da existência de alguém. Agir, portanto, como se ela fosse o fim da vida de um sujeito ou sua definição é de uma pobreza espiritual incrível.

Quando o papel social passa a ser o definidor do indivíduo, é óbvio que aquilo que o identifica passa a ser valorizado, elevado a uma importância acima de todo o resto. Não é à toa que as pessoas reverenciam tanto os títulos, os diplomas e as denominações dos cargos. Estas coisas passaram a ser um caminho mais rápido e mais simples para ser alguém, para se ter algum sentido na vida. O problema é que quando essas manifestações exteriores, ao invés de serem indicadores do que as pessoas fazem, passam a ser os definidores do que elas são, ninguém mais se preocupa em ser alguém de verdade. Basta o rótulo e tudo estará resolvido. Por que vocês acham que estamos tomados de tanta superficialidade?