Tag: Comunicação não-violenta

Falsos, mas agradáveis

Ao preparar alunos para responderem perguntas em entrevistas de emprego ou para ingresso em universidades, invariavelmente me deparo com jovens se esforçando por parecerem as pessoas mais agradáveis do mundo aos seus entrevistadores. A obsessão por serem politicamente corretos força-os a processar os pensamentos mais inócuos e as falas mais triviais. Com isso, acabam transpirando insinceridade, não conseguindo expressar uma palavra sequer que venha do coração. Não fosse minha intervenção se apresentariam diante dessas bancas como meras máquinas repetidoras de chavões.

Quando vejo isso, fica claro para mim que o compromisso com a verdade deixou de ser virtude para as novas gerações. O que conta para elas é não desagradar o interlocutor. Não importa mais a veracidade, mas a maneira como se diz. A referência não está mais na realidade, mas no sentimento de quem ouve. Nas escolas, na mídia e até nas igrejas, elas estão sendo ensinadas a esforçar-se por não afetar a suscetibilidade de ninguém, a amenizar suas palavras em favor do bem-estar alheio. Cuidar do jeito como se dirigem aos outros, de maneira a causar boa impressão, tornou-se sua regra de ouro.

Há uma concorrência tão grande por simpatia que daria inveja aos clássicos concursos de Miss Universo. Todo mundo quer parecer agradável, soar compreensivo, mostrar que se importa. O maior medo de um jovem deste tempo é ser visto como um intolerante, como um grosseiro.

Porém, não existe nada pior para a sinceridade do que o temor de ser mal visto. As pessoas esquecem que, na comunicação, o conteúdo vem primeiro e tentar atenuá-lo com uma forma mais agradável, invariavelmente, termina por corrompê-lo. A insistência em dar cores mais bonitas à realidade acaba por desconfigurá-la. Assim, quem se empenha demais para não desagradar cede facilmente à falsidade; quem se esforça por parecer sensível invariavelmente dá lugar à hipocrisia.

Por isso, quando o objetivo da fala é causar boa impressão, além de limitar-se intelectualmente, a pessoa passa a margear a mentira. Ser politicamente correto é uma praga que faz de qualquer um burro e desonesto.

Portanto, quando passar por sua cabeça falar de uma maneira preocupada apenas em não ferir suscetibilidades, lembre-se que a verdadeira virtude reside na franqueza, enquanto a alteração da ordem natural, pelo privilégio da forma em relação ao conteúdo, não passa de uma inversão tipicamente demoníaca.

Comunicação ideal ou ingênua

A busca de uma linguagem conciliadora, que tenha por objetivo o acordo, é o que alguns teóricos entendem como o ideal na política.

Sonham com debates ordeiros e educados, onde todas as partes expõem seus pontos de vista para chegarem a uma espécie de síntese superior a qual todos se submeteriam respeitosamente.

O que esse ideal não conta é com o fato de que, em política, alguns grupos estabelecem a linguagem unicamente como uma arma de guerra. Eles não possuem o discurso como um instrumento para a composição, nem mesmo para o convencimento, mas como recurso para alcançar a vitória sobre seus adversários.

Nesse caso, a possibilidade de composição simplesmente extingui-se.

Pode até parecer bonito e superior ter o consenso como objetivo, mas é absolutamente ingênuo acreditar que isso é possível com quem não está em um diálogo, mas em uma disputa.

Nesse sentido é que eu entendo que a comunicação não-violenta, do Marshall Rosenberg, ou a interpretação sobre a Nova Retórica de Perelman, feita por Mieczyslaw Maneli, podem ser vistas, no máximo, como técnicas de comunicação restritas a circunstâncias muito específicas, mas não servem para orientar a linguagem usada na realidade do cotidiano, principalmente político.